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O Poderoso Inconsciente

O Poderoso Inconsciente

16/07/2014

Por Manoel Augusto Bissaco.

Já parou para pensar na influência do seu inconsciente no seu dia a dia? A princípio, pode parecer estranho, mas suas escolhas conscientes estão, na verdade, profundamente moldadas por padrões automáticos que o seu inconsciente já estabeleceu.

A neurociência revela algo fascinante: 95% da mudança comportamental começa na mente inconsciente, enquanto apenas 5% é conduzida pela mente consciente. E se a mente consciente estiver distraída, essa porcentagem pode cair para apenas 2%.

O inconsciente reage rapidamente a respostas ou modelos de comportamento armazenados, funcionando sem que tenhamos consciência disso. De fato, a mente inconsciente toma decisões e executa ações um terço de segundo antes que nossa mente consciente sequer perceba.

A mente inconsciente é estruturada de maneira não linear e está programada para promover nossa evolução. Ela contém nossa força vital, espiritualidade e tudo o que é necessário para que possamos nos tornar o que fomos destinados a ser. Além disso, tem seu próprio vocabulário e pode ser trabalhada diretamente, sem a necessidade de ativar a mente consciente. Ela até pode ligar ou desligar genes e influenciar nossa saúde física e psicológica. O que pensamos pode realmente moldar o que nos tornamos.

Para ilustrar melhor como o inconsciente afeta nossas escolhas, pense em um exemplo prático:

Você já conheceu alguém que, embora soubesse que seu relacionamento era destrutivo, ainda assim não conseguia se desvincular dele? Essa pessoa sabia que merecia algo melhor, que o parceiro não era o ideal e todos ao redor diziam o mesmo, mas ela não conseguia dar o passo necessário para mudar a situação.

Ou talvez você tenha se deparado com situações cotidianas, como o início de uma dieta ou programa de exercícios. Muitas vezes, a pessoa começa com boa intenção, mas logo volta aos velhos hábitos, pulando de dieta em dieta sem alcançar resultados duradouros.

Nos dois casos, a mente consciente reconhece os problemas e sabe o que precisa ser feito, mas o inconsciente continua operando seus velhos padrões. Quando a mente consciente perde o foco, quem assume o comando são esses programas automáticos. Se você pensou no inconsciente, acertou.

Talvez um exemplo mais simples seja o momento em que você estava dirigindo e, de repente, se deu conta de que estava indo para um destino diferente do planejado. Sua mente consciente estava distraída com outros pensamentos, mas sua mente inconsciente assumiu a direção. E, na verdade, isso não é algo ruim. Já imaginou o quão difícil seria se tivéssemos que reaprender a dirigir, escovar os dentes ou até mesmo caminhar todos os dias?

A grande verdade é que 95% de toda mudança comportamental ocorre no nível inconsciente, enquanto a mente consciente lida com apenas 4 mil bits de informação por segundo. Já a mente inconsciente processa impressionantes 4 milhões de bits por segundo. Em outras palavras, os programas do inconsciente são até um milhão de vezes mais poderosos do que aqueles da mente consciente.

Bruce Lipton, um dos pioneiros no estudo da neurociência e consciência, afirma que, embora a mente consciente tenha a capacidade de pensar livremente e gerar ideias, ela é limitada por sua natureza linear. Por outro lado, o inconsciente é muito mais poderoso. Ele funciona como um supercomputador, armazenando uma vasta base de dados de comportamentos, especialmente os adquiridos até os sete anos de idade.

O inconsciente grava tudo como padrões. Muitos desses padrões são saudáveis e nos ajudam no cotidiano, mas outros podem ser disfuncionais, como os que nos impedem de emagrecer ou de ter relacionamentos satisfatórios. O mais preocupante é que alguns desses padrões foram formados antes dos sete anos de idade, quando nossas decisões e crenças estavam sendo moldadas sem nossa consciência.

Agora você pode se perguntar: “Por que até os sete anos de idade?”

Se colocássemos um aparelho de eletroencefalograma em uma criança de zero a dois anos, veríamos que suas ondas cerebrais são dominadas pelas ondas Delta, que variam de 2 a 4 ciclos por segundo. Entre quatro e sete anos, as ondas predominantes são as Theta, de 4 a 7 ciclos por segundo. Essas frequências estão associadas a estados de consciência alterados, quase hipnóticos.

Até os sete anos, as crianças vivem como se estivessem em constante “download” de tudo o que percebem, ouvem e sentem. Elas internalizam essas experiências e as interpretam de forma única. Por exemplo, se uma criança pede algo ao pai no supermercado e ele, irritado, responde que ela “não merece”, ela pode não ser capaz de discernir que a raiva do pai é devido a um dia difícil no trabalho. Em vez disso, ela pode internalizar que não tem valor, criando crenças equivocadas que podem se refletir em sua vida adulta, como em relacionamentos tóxicos.

Esses padrões disfuncionais ficam armazenados no inconsciente, repetindo-se ao longo da vida, muitas vezes sem que tenhamos consciência de sua origem.

Agora que você compreende o poder da mente inconsciente e como ela pode influenciar sua vida, fica claro o motivo pelo qual é essencial entender como ela funciona para promover mudanças reais e duradouras. Isso não é uma jornada simples, mas vale a pena.

Freud, por exemplo, foi um dos primeiros a teorizar sobre a mente inconsciente. Mas, como mostrou Milton Erickson, é possível transformar o inconsciente, não apenas como um depósito de material reprimido, mas como uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento pessoal.

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Crianças de quatro a sete anos de idade irão apresentar ondas Theta (4 a 7 ciclos por segundo).

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Crianças de sete a doze anos de idade irão apresentar ondas Alpha ( 7 a 14 ciclos por segundo).

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Mas o que são ondas cerebrais?

Ondas cerebrais são padrões de atividade elétrica produzidos pelos neurônios do cérebro. Elas podem ser medidas por aparelhos como o eletroencefalograma (EEG), que registra suas frequências em ciclos por segundo (Hz). Essas ondas variam de acordo com o estado mental — como concentração, relaxamento ou meditação — e revelam diferentes níveis de consciência.

De forma prática, os estados Delta, Theta e Alpha são considerados estados hipnóticos. Até os sete anos de idade, vivemos predominantemente nesses estados, o que nos coloca em um modo de “download” contínuo. Absorvemos tudo que vemos, ouvimos e sentimos, interpretando à nossa maneira, ainda sem o filtro crítico da mente consciente.

Especialmente entre os quatro e sete anos, predominam as ondas Theta. Esse é um estado altamente imaginativo, e quem convive com crianças nessa faixa etária sabe o quanto elas vivem imersas em um mundo de sonhos e fantasia.

Vamos a um exemplo prático: imagine uma criança no supermercado com o pai. Ela pede algo e o pai, estressado por um dia difícil, responde de forma ríspida: “Não vou comprar porque você não merece!”. A criança, sem maturidade emocional ou capacidade de discernimento, não pensa: “Meu pai está frustrado, isso não tem a ver comigo.” Pelo contrário, ela registra a mensagem como uma verdade sobre si: “não mereço, não sou valiosa”.

Com o tempo, experiências como essa formam crenças inconscientes equivocadas. Essas crenças, por sua vez, moldam comportamentos futuros, como se envolver com parceiros que não a valorizam. É claro que cada história é única, e esse é apenas um exemplo.

Com isso, nossa mente inconsciente começa a automatizar padrões — tristeza, medo, rejeição — e muitas vezes nem temos consciência de sua origem. Se realmente queremos mudar nossas vidas, é essencial entender como o inconsciente opera e como se comunica.

Um pouco de história…

A ideia da mente inconsciente não surgiu com Freud. Textos hindus antigos, como os Vedas (entre 2500 e 600 a.C.), já mencionavam conceitos semelhantes. Filósofos ocidentais como Spinoza, Leibniz, Schopenhauer, Kierkegaard e Nietzsche também refletiram sobre essa dimensão invisível da mente.

Freud, no entanto, foi o responsável por popularizar a noção de inconsciente na psicologia moderna. Para ele, o inconsciente era um repositório de desejos reprimidos, ideias socialmente inaceitáveis, memórias traumáticas e impulsos sexuais. Um “caldeirão” perigoso, que poderia sabotar o indivíduo se não fosse adequadamente analisado.

Carl Jung, por sua vez, expandiu a teoria, propondo o inconsciente coletivo — um espaço comum a toda humanidade, povoado por arquétipos e memórias ancestrais. Jacques Lacan trouxe ainda outra visão, afirmando que o inconsciente possui linguagem própria e estrutura tão sofisticada quanto a mente consciente, comunicando-se por meio de símbolos.

Nas abordagens psicanalíticas tradicionais, o inconsciente é acessado por métodos como a interpretação de sonhos, atos falhos e associação livre — sendo o terapeuta o principal intérprete dos conteúdos revelados.

Já Milton H. Erickson ofereceu uma proposta diferente. Para ele, a mente consciente tem o papel de julgar e analisar, mas é a mente inconsciente que inicia quase todas as ideias. Enquanto a consciência é linear e limitada, a mente inconsciente possui uma capacidade multidimensional: acessa experiências de toda a vida, reconhece padrões simbólicos e responde a estímulos em múltiplos níveis ao mesmo tempo.

Erickson redefiniu o uso da hipnose, criando a abordagem que conhecemos hoje como hipnose ericksoniana ou naturalista — uma forma de comunicação indireta e permissiva com o inconsciente.

E os resultados?

Enquanto Freud tem cerca de 60 casos clínicos documentados como bem-sucedidos, Milton Erickson tem mais de 600. Vale lembrar que Freud abandonou a hipnose, alegando não possuir habilidade suficiente com a técnica — um fato pouco conhecido, mas revelador.

Outro dado interessante vem do psicólogo Alfred A. Barrios, Ph.D., que realizou uma pesquisa comparando taxas de sucesso entre diferentes abordagens terapêuticas. Os resultados apontaram percentuais muito mais altos em terapias que atuam diretamente no inconsciente, como a hipnose.

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gráfico

 

Resultados das abordagens terapêuticas segundo Alfred A. Barrios, Ph.D.:

  • Psicanálise: 38% de recuperação após cerca de 600 sessões (em média 11 anos e meio);

  • Terapia Comportamental: 72% de recuperação após 22 sessões (em torno de 6 meses);

  • Hipnoterapia: 93% de recuperação após apenas 6 sessões (aproximadamente 1 mês e meio).

Ah, quase ia me esquecendo…
Lembra das ondas cerebrais que mencionamos no início?

As crianças até os sete anos vivem em estados alterados de consciência, ou seja, em estados hipnóticos praticamente o tempo todo. Talvez esse seja um dos principais motivos pelos quais a hipnose se mostra tão eficaz nos estudos clínicos.

Com o passar dos anos, novas abordagens terapêuticas surgem com o propósito de aliviar o sofrimento humano e promover mais qualidade de vida. Algumas são mais eficazes do que outras. Na minha visão, tratar o inconsciente como um “caldeirão” perigoso, cheio de conteúdos reprimidos prontos para nos sabotar, como acreditava Freud, não é exatamente um lugar acolhedor para revisitar.

Já Milton Erickson via o inconsciente de forma completamente diferente: um sistema voltado para o crescimento do ser, repleto de recursos, sabedoria e possibilidades. Isso torna o processo terapêutico muito mais acessível e compassivo — um verdadeiro convite para rever crenças equivocadas e curar aprendizados incompletos.

Falo com propriedade: sou um grande admirador do trabalho de Erickson, não apenas pelas estatísticas, mas pela experiência pessoal. Tive contato com abordagens tradicionais que, para mim, não trouxeram resultados. Foi na hipnoterapia que encontrei transformação real.

O psicólogo austro-americano Paul Watzlawick contou certa vez a história de um homem, tarde da noite, que procurava algo sob a luz de um poste. Estava visivelmente cambaleante, mas focado em vasculhar o chão iluminado. Um policial se aproximou e perguntou se precisava de ajuda. O homem respondeu que havia perdido as chaves de casa, e os dois começaram a procurar.

Depois de um tempo, o policial perguntou:
— “Foi aqui mesmo que o senhor perdeu as chaves?”
— “Não”, respondeu o homem com naturalidade. “Perdi em outro lugar… Mas aqui tem luz, então é mais fácil procurar.”

Essa metáfora é poderosa. Muitas vezes, buscamos mudanças na vida como esse homem: no lugar mais confortável ou familiar, mas não onde a transformação realmente pode ocorrer.

Talvez seja esse o motivo pelo qual muitos ainda não encontram as respostas que procuram.

Certo ou não, uma coisa é inegável:
Você tem uma mente inconsciente.
Eu também tenho uma mente inconsciente.
E se você leu este texto até o final, é porque parte de você já reconhece esse poder silencioso que habita dentro de si.

Agora você tem mais clareza sobre o que é o inconsciente — e pode tirar as suas próprias conclusões.

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2 Respostas para “O Poderoso Inconsciente”

  1. Suellen Gomes Costa disse:

    Sensacional essa matéria !! Obrigado…

  2. Francisco Monturil disse:

    Muito enriquecedor..
    Obrigado!

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