Choque do gênero: você sabe o que é e quais os seus impactos?
24/05/2021
Entenda o que é o choque do gênero e como ele pode influenciar na vida.
“Tomara que seja um menino!”, diziam os antigos toda vez que uma mulher anunciava a sua primeira gravidez: o conhecido choque do gênero. Essa história de o primogênito ter que ser preferencialmente do sexo masculino perdurou por muitos séculos na cultura do mundo todo. Com o passar do tempo e a evolução desses aprendizados, essa realidade acabou se modificando um pouco.
Mas mudar não significa que, ainda assim, não exista certa preferência dos pais quando esperam pela chegada de um filho. Por sinal, esse favoritismo entre um sexo ou outro é justamente o que pode causar um fenômeno conhecido na Psicologia Pré e Perinatal como choque do gênero.
É quase inevitável. Por conta disso, muitos criam expectativas quanto ao gênero do bebê. Uns têm predileção por meninos, outros por meninas. Sejam quais forem os motivos que levam a essas conclusões uma coisa é certa: mesmo que neguem, alguns acabam se frustrando ao saber que, na verdade o filho que está a caminho é do gênero oposto ao que “gostariam”.
Assim como essa frustração pode atingir o feto, a expectativa depositada – quando um bebê do gênero desejado está a caminho – também pode acabar atingindo o embrião. Ou seja, ambas situações podem impactar a vida do bebê antes mesmo de ele chegar ao mundo.
Como você já deve imaginar, o choque do gênero também é algo que costuma acontecer com certa frequência. Claro que não é proposital e, na maioria das vezes, esse baque inicial ao descobrir o sexo passa com o avançar da gestação. Mesmo que isso ocorra, o impacto causado nos pais existiu e pode sim deixar algum tipo de marca nas profundezas daquele serzinho.
E quais marcas isto pode deixar na vida adulta?
Assim como nos casos dos choques da pré-concepção, da descoberta, da síndrome do gêmeo desvanecido, pessoas que sofrem o choque do gênero também podem apresentar sintomas desse trauma ao longo da vida.
Geralmente quem passa por isso tende a se sentir rejeitado, pode se sentir inadequados e quer desenvolver o papel que os pais esperavam que ocupasse.
Aliás, eu trabalhei com uma paciente de origem turca que viveu mais ou menos isso. Na cultura dela, os homens têm obrigações familiares distintas das mulheres. Coincidentemente, ela foi a primeira dos irmãos a nascer e por conta dessa carga cultural sofreu o choque do gênero.
Involuntariamente, ela começou a assumir todas as responsabilidades como se fosse, de fato, o primogênito homem. Mesmo tendo irmãos do gênero masculino, foi ela quem tomou para si essas atribuições, entrando, muitas vezes, até mesmo em conflitos. Não porque queria, mas por acreditar, intrinsecamente, que eles é quem deveriam estar cumprindo com tais obrigações. Além disso, falando agora de forma mais direcionada aos sentimentos, vivia insatisfeita consigo mesma e sofria por não conseguir se aceitar como era.
William Emerson, pai da Psicologia Pré e Perinatal, defende que isso ocorre porque os pais não estão realmente abertos a aceitar o que está por vir em sua naturalidade. Depositam expectativas, fazem planos e impõem fardos aos seus filhos, mesmo com as melhores intenções. Quando na verdade deveriam apenas amar o ser incondicionalmente e despertar dentro de si a curiosidade em descobrir os dons peculiares que cada um trará à vida. Afinal de contas, o gênero nada mais é do que “um órgão”, uma tendência sexual. Nada tem a ver com virtudes, personalidade, caráter ou modo de ser.
O choque do gênero pode nos distanciar do nosso verdadeiro EU
Tudo o que eu disse não é para fazer você sentir culpa caso tenha sido “uma surpresa” saber sobre o sexo do seu bebê. Nem mesmo para dizer que seus problemas de não aceitação ou rejeição foram causados por conta de ter sofrido o choque do gênero.
O importante é que saiba olhar para isso e consiga entender a importância de explorar esse território. Pois ele pode influenciar muitos comportamentos. Acessar as informações desses choques e traumas nos permite reorganizar os impactos deixados por eles.
No caso do choque do gênero, muitas vezes a pessoa acaba vestindo uma roupagem que não é sua. Isso para que seja possível atender as expectativas depositadas dos outros e assumir papéis de acordo com a vontade alheia.
Acho que nem preciso dizer o quanto isso é capaz de distanciar as pessoas de sua própria essência, não é mesmo?
A pessoa deixa de olhar para suas próprias emoções e vontades, já que precisa satisfazer os outros para se sentir amada, aceita. Por mais difícil que seja lidar com esses sentimentos e com as emoções que os choques e traumas podem causar, essa é a única maneira de ressignificar essas experiências.
Ressignificar não significa anular ou apagar o que passou. É apenas uma forma de aprender a conviver com os acontecimentos negativos de forma que eles não tragam mais episódios ruins para a vida. Por isso, eu sempre bato na tecla de ser importante explorar e conhecer a própria história. O autoconhecimento, aliás, é a ferramenta mais poderosa para nos libertar de muitos problemas emocionais e conflitos internos.
Se você se interessa por essas questões eu tenho um convite a te fazer: participe do meu grupo no WhatsApp. Por lá, você encontrará materiais e informações que te ajudarão a compreender melhor sobre o universo intrauterino.
Foi muito interessante esse texto. Eu não fui a primogênita, mas meu pai esperava que fosse um menino. Quando soube que tinha nascido uma menina, nem foi me ver. Só depois de uma semana que ele entrou no quarto pra me ver. Foi o maior grude, fui a mais preferida. Mas, também acabei assumindo as responsabilidades da casa, as resoluções de problemas. Foi bem isso, me sentia responsável pelos meus irmãos mais velhos, pelos mais novos, pelos pais e sobrinhos.
Amei o artigo. Explica muitas coisas na minha vida.
Pois é. Tenho esse trauma e rejeicao dupla. Sou a segunda filha, e meu avô disse quando eu nasci: outra mulher pra que?? Cresci sempre em conflito, achando que eu era ERRADA e que nao servia para nada, alem de fazer tudo errado. Desde pequena me diziam que eu parecia um moleque, brincava mais com meninos, Ja fui constelada e descobri que na vdd sou a terceira. E acredito que o primeiro que ia nascer era um menino, minha avò paterna ordenou que minha mãe tirasse, porque meu pai tinha 17 anos e minha mãe 22. Como ja assisti nos seus videos, o casamento foi um fracasso.
Olá, bom dia!
Sou terapeuta com clínica em São Paulo há mais de 40 anos. Conheço seu trabalho, Manoel, e já o recomendei algumas vezes para alguns clientes.
O meu interesse é a troca de ideias para aprender mais sobre nossa maravilhosa arte.
Um grande abraço