Síndrome do Gêmeo Desvanecido: indícios e impactos da gestação gemelar na vida adulta

Você sabia que pesquisas apontam que  cerca de 60% das gestações se iniciam de forma múltipla? Isso mesmo! Mas por motivos diversos, apenas um feto continua a se desenvolver. Porém, como essa perda de um dos embriões acontece de forma muito precoce, muitas vezes a mãe sequer tem ciência sobre a existência do segundo feto. Contudo, para o serzinho que continuou a se desenvolver sem o seu irmão, essa perda traz impactos bem significativos, abrindo espaço para o que chamamos, dentro da Psicologia Pré e Perinatal, de Síndrome do Gêmeo Desvanecido (ou Evanescente). E, adivinhe só: esse também é um dos principais traumas do período intrauterino.

Aliás, se você ainda não leu sobre os choques da pré-concepção e da descoberta da gravidez, indico que depois também se informe sobre eles.

Assim como os outros traumas do período intrauterino, quando ocorre a perda do irmão gêmeo, mesmo ainda dentro do útero, alguns padrões comportamentais são influenciados por esse acontecimento. O gêmeo sobrevivente, mesmo que tenha passado por essa separação ainda muito precocemente, é afetado de forma profunda por essa perda. Ao longo do conteúdo eu falarei sobre algumas características marcantes e você possivelmente irá se identificar com algumas delas. Ou poderá, também, perceber semelhanças nos comportamentos dos seus filhos.

Pois como já deve saber, tudo o que acontece no ambiente intrauterino deixa impactos significativos em nossas vidas, moldando inclusive nosso modo de ser, pensar e agir. É como se essa fase criasse nossos templates e predisposição para a forma como iremos nos comportar em diferentes situações ao longo da nossa jornada.

Indícios biológicos de uma gestação gemelar: Síndrome do Gêmeo Desvanecido

Antes de falarmos propriamente dos impactos que esse tipo de trauma pode deixar, acho importante citar alguns indícios biológicos que podem indicar uma gestação gemelar.

Inseminação In Vitro/Fertilização: por si só, essas maneiras de engravidar já trazem muitas caracteríticas da perda de um irmão gêmeo. Geralmente é implantado mais de um óvulo fecundado no útero para aumentar as chances de sucesso. Desse modo, possivelmente bebês gerados dessa maneira terão a experiência da síndrome do gêmeo desvanecido.

Sangramentos durante a gestação: algumas mulheres relatam sangramentos durante a gravidez. Quando mesmo diante disso se constata que o bebê continua se desenvolvendo, pode ser indício de um aborto do outro embrião.

Tamanho do útero aumentado: principalmente no primeiro trimestre, se o tamanho do útero parece maior do que o esperado para o período, pode ser um indicativo.

Placenta: no momento do parto, um dos indícios de gestação gemelar está relacionado a placenta. Alguns estudos realizados demonstraram que quando a espessura e o tamanho da placenta parecem anormais,  é provável que a gravidez não tenha sido iniciada com um único embrião.

Presença de duas placentas, sacos amnióticos ou cordões umbilicais: durante o nascimento do bebê, alguns profissionais já relataram a presença de mais de uma placenta, saco amniótico ou cordão umbilical, o que evidencia a probabilidade da gestação não ser única.

Fetos papiráceos: essa é uma das situações mais inusitadas, mas acontece. É quando, no momento do parto, existe um feto “mumificado” dentro do útero materno.

Órgãos duplicados, bilateralidade e ambidestralidade também são alguns fatores que podem indicar uma gestação múltipla.

Mas esses indícios sozinhos não querem dizer nada. Sempre é importante entender o contexto e explorar a história intrauterina de cada indivíduo separadamente. Mas trabalhando todos esses anos com a Psicologia Pré e Perinatal, posso afirmar que são evidências bem significativas.

Quais impactos a Síndrome do Gêmeo Desvanecido podem causar? 

Como disse acima, geralmente a perda de um dos embriões acontece antes mesmo que a mãe tenha ciência sobre a sua existência. Hoje em dia, existem recursos e exames de imagem feitos cada vez mais cedo e que são capazes de detectar a presença de mais de um saco gestacional, por exemplo.

Mas, mesmo assim, o fato de saber sobre a existência de outro feto não significa muito se essa perda não receber a devida atenção. Não pelo ponto de vista dos pais, mas principalmente do bebê que continuou a se desenvolver. De todos, é ele o mais impactado no processo todo.

Contudo, os reflexos que esse trauma pode deixar dificilmente são relacionados a um acontecimento traumático nesse sentido. Os principais vestígios de pessoas que viveram a síndrome do gêmeo desvanecido na vida adulta são:

Dificuldade com despedidas

De um modo geral, ninguém gosta de despedidas. Mas quem sofreu a perda de um irmão gêmeo ainda dentro do útero costuma ter uma dificuldade ainda maior. Nos casos em que a despedida está atrelada à morte, é muito doloroso. Em contrapartida, pode fazer com que as pessoas reajam com frieza nesses casos. Como a perda do irmão deixou impactos muito enraizados, essa frieza ocorre por conta de uma dissociação das emoções.

Busca constante e incessante de algo ou alguém

Essa é uma forma de tentar preencher o vazio com sentido. É como se a pessoa passasse uma vida inteira atrás de sua alma gêmea, sua cara-metade. Muitos desses relacionamentos, aliás, acabam terminando com a sensação de que o ex-casal são irmãos.

Viajar pelo mundo e conhecer vários lugares

De forma inconsciente, essa é uma busca baseada na tentativa de que nesses locais se consiga encontrar o que tanto procura. Nessa questão, podemos inserir também as mudanças de cidade constantes.

Busca por um aprofundamento espiritual e ter tudo em pares, por exemplo, podem dar sinais de que um irmão foi perdido no útero. Buscar a perfeição em outras pessoas, como maneira de substituir aquela perda também pode ser um reflexo desse trauma.

Em relação aos sentimentos, essas pessoas tendem a se sentir vazias, rejeitadas e abandonadas. De forma involuntária, querem completude e perfeição em tudo o que as rodeiam. Descontentamentos pela vida, solidão inerente a ponto de sentir melancolia e tristeza mesmo diante de momentos muito prósperos. Sentimentos de culpa, irritações constantes,  querer salvar pessoas a todo custo, se preocupando mais com os outros do que consigo mesmas, também são características dessas pessoas.

Mas lembre-se: não existe causa e efeito. Não existem regras. Indícios são apenas indícios e não devem ser absorvidos como certezas absolutas. Para saber se você é um gêmeo sobrevivente é preciso se aprofundar verdadeiramente na SUA história, nas suas experiências intrauterinas, nas vivências da sua infância e nos diferentes contextos que nos formam como um todo!

Caso você queira se aprofundar mais sobre as temáticas que eu trago aqui no blog, participe do meu grupo no WhatsApp e acompanhe as aulas gratuitas que eu ofereço.