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O Choque da Anestesia no Nascimento

O Choque da Anestesia no Nascimento

04/06/2025

Introdução

O nascimento como evento formador

Desde meados do século XX – e até mesmo antes disso – pensadores da psicologia e da obstetrícia começaram a levantar questões fundamentais sobre o impacto do nascimento na vida emocional e comportamental do ser humano.

Inicialmente, o próprio Sigmund Freud cogitou, ainda que brevemente, a importância do nascimento na etiologia das psicoses. No entanto, com o tempo, redirecionou seu foco teórico para o complexo de Édipo. Apesar desse desvio, a hipótese do nascimento como experiência fundante foi retomada e aprofundada por alguns de seus discípulos.

O nascimento como trauma primordial

Em 1924, Otto Rank propôs que o nascimento é o trauma original de todo ser humano. Segundo ele, a experiência do parto deixaria marcas psíquicas profundas, capazes de moldar nossa vida emocional desde os primeiros instantes.

Mais tarde, em 1949, Nandor Fodor deu continuidade a essa linha de pensamento, relacionando o trauma de nascimento a padrões recorrentes de comportamento e sintomas na vida adulta. Esses primeiros apontamentos lançaram as bases para um novo campo de investigação clínica e teórica.

Novas vozes, novas compreensões

Décadas depois, nomes como Michel Odent e Arthur Janov trouxeram novas contribuições. Odent enfatizou a influência do ambiente emocional e físico durante o parto na formação do bebê. Já Janov, com sua teoria do grito primal, reforçou a ideia de que experiências traumáticas precoces – incluindo o nascimento – geram padrões emocionais que se perpetuam ao longo da vida.

Apesar dessas contribuições valiosas, por muito tempo o nascimento foi tratado de forma genérica, como um evento importante, mas pouco detalhado em termos emocionais. Foi o trabalho pioneiro de William Emerson que transformou essa perspectiva.

O mapeamento de William Emerson

William Emerson, considerado um dos fundadores da Psicologia Pré e Perinatal, mapeou com precisão os estágios do nascimento e os temas emocionais correspondentes a cada um deles. Ele também destacou os efeitos profundos das intervenções obstétricas, incluindo o uso da anestesia, sobre o sistema nervoso do bebê em desenvolvimento.

Seu trabalho abriu caminho para uma nova compreensão: a de que o nascimento não é apenas um evento físico, mas também emocional e psicológico – especialmente quando interferido por substâncias químicas como a anestesia.

O foco deste artigo: o choque de anestesia

Neste artigo, o foco será o choque de anestesia no nascimento – um tema ainda pouco explorado, mas que provoca efeitos profundos e duradouros. Embora geralmente invisível, esse impacto pode afetar o sistema nervoso, a psique e o desenvolvimento emocional do bebê, reverberando por toda a vida.

É importante lembrar que a cesariana, como prática médica, também envolve múltiplas camadas de complexidade: intervenções técnicas, separação precoce da mãe, interrupção do processo fisiológico do nascimento e desdobramentos emocionais. No entanto, por uma questão de foco, esses aspectos serão abordados em artigos futuros.

Neste texto, concentraremos nossa atenção especificamente na anestesia: em como ela atua sobre o corpo e o sistema do bebê, e em como suas reverberações podem se manifestar de forma somática, emocional e psicológica – tanto na infância quanto na vida adulta.

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A curiosidade inicial de Emerson sobre os impactos da Anestesia

O interesse profundo de William Emerson pelos efeitos da anestesia no nascimento surgiu durante um período de imersão em vilarejos rurais da Índia. Ali, convivendo de perto com famílias locais, ele pôde observar com atenção o desenvolvimento dos recém-nascidos e a qualidade do vínculo entre mães e bebês em contextos menos medicalizados.

Mesmo sem hospitais modernos, a anestesia estava presente

Embora fossem comunidades com pouca estrutura hospitalar, o uso de anestesia durante os partos era comum. Ainda que de forma rudimentar, clínicas simples utilizavam anestésicos básicos para aliviar a dor das mães. Mesmo sem os recursos tecnológicos dos hospitais ocidentais, Emerson percebeu que os efeitos da anestesia eram perceptíveis e marcantes no pós-parto.

Essa constatação o levou a questionar algo que até então era pouco observado com profundidade: os possíveis impactos da anestesia no bebê, e não apenas na mãe.

Diferenças visíveis nos vínculos maternos

Durante suas observações, Emerson notou uma diferença significativa no comportamento dos recém-nascidos. Alguns bebês apresentavam um contato visual intenso com as mães, expressavam emoções com clareza e demonstravam uma presença psíquica viva e engajada.

Outros, no entanto, pareciam emocionalmente ausentes. Seus olhares eram vagos, evitavam o contato direto e não respondiam às expressões de afeto da mãe – mesmo quando a mãe se mostrava amorosa, presente e disponível emocionalmente.

Essa disparidade chamou a atenção de Emerson. Afinal, o ambiente social e cultural era semelhante, e as mães, em ambos os casos, demonstravam cuidado genuíno. O que, então, explicava tamanha diferença?

A correlação entre anestesia e ausência de presença

Intrigado, Emerson decidiu investigar os relatos de parto. Ao conversar com parteiras, profissionais locais e as próprias mães, descobriu um padrão consistente: os bebês que apresentavam maior distanciamento haviam sido expostos à anestesia durante o nascimento.

A partir dessa correlação, ele começou a formular a hipótese de que a anestesia atravessa a placenta e afeta diretamente o sistema do bebê, alterando sua capacidade de presença, conexão e segurança no contato afetivo.

Segundo suas observações, a substância anestésica parecia induzir um estado de torpor e desligamento, impedindo o bebê de acessar plenamente suas funções relacionais e afetivas nos momentos cruciais do pós-parto imediato.

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O uso da Anestesia no parto: O que a maioria não sabe

Arthur Janov, criador da teoria do grito primal, também investigou profundamente os efeitos da anestesia no nascimento. Segundo ele, a substância anestésica atravessa a barreira placentária e atua no bebê de forma ainda mais intensa do que na mãe. Embora as doses sejam ajustadas para o corpo adulto, o efeito sobre o organismo fetal é desproporcional e potencialmente traumático.

Janov afirma:

“A droga atravessa a barreira placentária, fornecendo uma dose centenas de vezes mais poderosa para o bebê, de modo que nem a mãe nem o bebê podem reagir normalmente” (Janov, 1983, p. 35).

Essa citação destaca como a anestesia não apenas silencia a dor, mas pode também anestesiar a presença psíquica do bebê, interferindo em seu processo de chegada ao mundo.

Por que o efeito é tão intenso no corpo fetal?

Isso ocorre, em parte, devido à própria fisiologia do bebê em desenvolvimento. O corpo fetal é altamente composto por gordura, e como a anestesia é lipossolúvel, tende a se depositar nesses tecidos com facilidade. Como consequência, o efeito da substância pode ser mais duradouro, gerando sensações de torpor, confusão e até mesmo um tipo de “apagamento” da consciência.

Além disso, o sistema nervoso do bebê, por ainda estar em formação, não possui recursos suficientes para metabolizar ou se proteger desse impacto químico, o que aumenta a vulnerabilidade e amplia os efeitos negativos da exposição.

Nem as anestesias “locais” estão isentas de risco

Muitas vezes, considera-se que anestesias “locais” – como a peridural, a raquianestesia ou o bloqueio caudal – sejam seguras. No entanto, William Emerson alertou que mesmo essas formas de anestesia podem atingir o bebê. Embora aplicadas na região espinhal da mãe, essas substâncias podem escapar para o sistema circulatório e, por consequência, alcançar o feto.

Assim, mesmo quando o parto ocorre com aparência de controle e segurança médica, a consciência do bebê pode ser afetada de forma significativa.

Efeitos prolongados: o que dizem os estudos

Emerson analisou estudos clínicos que apontam para possíveis consequências duradouras da anestesia administrada no parto. Entre elas, destacam-se dificuldades de aprendizagem e alterações neuropsicológicas observadas em crianças nascidas sob efeito da anestesia peridural.

Portanto, ainda que o procedimento seja considerado tecnicamente seguro para a mãe, os impactos para o bebê, especialmente em termos emocionais e neurológicos, não devem ser subestimados. A anestesia pode interromper não apenas o fluxo fisiológico do nascimento, mas também a experiência psíquica e somática do bebê – ou seja, sua capacidade de estar presente, consciente e conectado no momento da chegada ao mundo.

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Evidências Científicas Além de Emerson e Castellino

Embora a observação clínica de William Emerson tenha sido decisiva para abrir o olhar sobre os efeitos da anestesia no nascimento, outros estudiosos também investigaram esse fenômeno sob perspectivas científicas complementares. O trabalho de Arthur Janov, já citado anteriormente, é um exemplo, mas há também dados empíricos provenientes da psicofisiologia e do neurodesenvolvimento.

A travessia da barreira placentária

Pesquisas demonstram que substâncias anestésicas atravessam com facilidade a barreira placentária. Isso significa que o bebê, ainda dentro do útero, absorve parte do anestésico destinado à mãe – porém, em proporções muito mais impactantes, considerando sua massa corporal reduzida e sua alta vulnerabilidade neurofisiológica.

Esse fator, por si só, já sugere que a exposição fetal à anestesia não pode ser considerada neutra. O impacto, embora silencioso à primeira vista, pode ser duradouro.

Consequências no neurodesenvolvimento

Estudos também indicam que a anestesia pode interferir em processos neurológicos fundamentais, como a mielinização dos neurônios – etapa essencial para a condução eficiente dos impulsos nervosos. Em recém-nascidos, cujo sistema nervoso ainda está em pleno desenvolvimento, essa interferência pode prejudicar áreas como a regulação emocional, a percepção sensorial e o funcionamento cognitivo inicial.

Além disso, pesquisas em neurodesenvolvimento apontam correlações entre o uso de anestesia no parto e uma série de dificuldades posteriores, incluindo déficits de atenção, alterações no sono e dificuldades de aprendizagem. Embora nem sempre se possa afirmar uma causalidade direta, a recorrência estatística desses dados reforça o que muitos terapeutas somáticos e psicólogos perinatais observam clinicamente.

A bioquímica fetal e os riscos da medicalização

Neurocientistas como Thomas Verny e David Chamberlain também destacaram que as substâncias administradas à mãe alteram diretamente a bioquímica do feto. Isso se aplica não apenas aos anestésicos, mas também a outros medicamentos usados durante o trabalho de parto.

Essa alteração bioquímica, segundo eles, pode afetar profundamente o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), sistema responsável pela resposta ao estresse. Como consequência, o bebê pode desenvolver padrões de reatividade emocional intensificados, que se estendem ao longo da infância e da vida adulta.

Um reforço à visão da Psicologia Pré e Perinatal

Diante de todas essas descobertas, torna-se evidente que a Psicologia Pré e Perinatal encontra respaldo na ciência contemporânea. A forma como nascemos, incluindo as substâncias às quais somos expostos no parto, não apenas influencia nossa fisiologia, mas também molda o desenvolvimento emocional e relacional.

Por isso, é essencial considerar o nascimento como um evento altamente sensível – e não apenas físico, mas também emocional, somático e psíquico. O modo como ele acontece pode deixar marcas sutis, porém profundas, que nos acompanham por toda a vida.

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Choque de Anestesia

O choque de anestesia, tal como observado por William Emerson, não se restringe ao momento do nascimento. Ao contrário, ele pode deixar uma marca profunda no corpo e no sistema nervoso do bebê, permanecendo por décadas como uma memória implícita silenciosa, que atua muito além da consciência verbal.

A memória que vive no corpo

Essa memória não é narrativa nem racional – ela é somática. Ou seja, vive no corpo como uma sensação difusa, que pode se manifestar como torpor, confusão, paralisia ou até como uma perda súbita de orientação. Frequentemente, em momentos de estresse, transições ou mudanças significativas, o sistema nervoso da pessoa retorna automaticamente ao mesmo estado congelado vivido no nascimento.

Mesmo sem lembrar conscientemente do evento, o corpo se recorda. E, em vez de reagir com presença, ele pode repetir o padrão de colapso ou desligamento.

Sintomas que se manifestam na vida adulta

Pessoas que passaram por esse tipo de nascimento frequentemente relatam sintomas como:

  • Ansiedade diante de imprevistos ou mudanças de plano;
  • Necessidade intensa de controle sobre pessoas, ambientes ou rotinas;
  • Intolerância a estados alterados de consciência, como sono profundo, uso de substâncias, relaxamento ou meditação;
  • Cansaço inexplicável e sensação de “desligamento” súbito em momentos decisivos.

Além disso, muitos evitam situações que envolvam entrega ou perda de controle. Isso pode incluir anestesias odontológicas, consumo de álcool, práticas de respiração profunda, exercícios de meditação ou contato corporal mais intenso. Há, nesses casos, uma tentativa inconsciente de proteger o sistema da repetição daquele apagamento original.

A vida moldada pelo controle

Como consequência, é comum que essas pessoas desenvolvam um estilo de vida baseado no controle rígido. Tentam antecipar cenários, prever riscos, evitar surpresas. O estado de hiperalerta torna-se crônico.

No entanto, essa tentativa de manter o sistema “seguro” cobra um preço alto. Ao longo do tempo, surgem:

  • Exaustão física e emocional
  • Ansiedade persistente
  • Rigidez nos relacionamentos
  • E uma profunda dificuldade em acessar a espontaneidade e o prazer da vida.

O caminho da liberação somática

Na Terapia Somática Pré e Perinatal, é possível acessar com segurança essas memórias congeladas. O processo, embora delicado, é profundamente transformador. Ao trabalhar com o corpo e não apenas com a mente, é possível restaurar a vitalidade que ficou retida no momento do choque.

Quando o corpo compreende – de forma visceral – que o presente é seguro, ele deixa de reagir como se ainda estivesse no trauma. Aos poucos, o sistema nervoso sai do estado de defesa e permite o retorno da presença, fluidez e confiança interna.

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Impactos na Vida Adulta: Quando o Corpo Lembra

Muitos adultos convivem com sintomas persistentes que não encontram explicação na história consciente de vida. Mesmo após anos de terapia verbal, autoconhecimento e esforço para mudar padrões, ainda se sentem presos a reações automáticas, medos irracionais ou estados crônicos de ansiedade, apatia e hiperalerta.

Apesar de todo o empenho, algo dentro deles permanece rígido, congelado ou confuso. Isso indica que a origem desses padrões pode estar em camadas mais profundas — anteriores à memória narrativa.

A origem somática: o corpo como guardião da experiência

Esses sintomas podem ser a expressão somática de memórias muito precoces, especialmente do nascimento sob anestesia. O corpo guarda registros profundos, mesmo quando a mente não se lembra de nada. Como afirmam os pesquisadores da psicologia perinatal: o cérebro pode esquecer, mas o corpo lembra.

Padrões como a necessidade de controle extremo, intolerância à vulnerabilidade e evitação de entregas emocionais podem ter raízes nesse momento inicial. O nascimento anestesiado é vivenciado como um colapso interno: uma sensação de perder o próprio centro, de ser invadido por algo maior e paralisante, sem recursos para reagir.

Ressonâncias na vida adulta: um corpo em alerta constante

Na vida adulta, situações que envolvem rendição, entrega ou estados alterados de consciência — como o relaxamento, a sexualidade ou até mesmo a meditação — podem acionar, sem que a pessoa perceba, essas memórias implícitas.

A resposta do corpo, nesses casos, não é proporcional à realidade atual, mas sim ao registro antigo de que perder o controle pode significar morrer. É como se o sistema nervoso revivesse, a cada nova situação, o mesmo colapso do início da vida.

A sensação de estar fora de si: filtros e distanciamento

Além disso, muitos adultos relatam um cansaço que não melhora com descanso, uma sensação de viver como se estivessem sempre “meio fora” de si. Há um tipo de dessensibilização sutil e constante, como se o contato com a vida fosse filtrado, amortecido ou parcial.

Essa desconexão pode afetar a capacidade de se vincular, de sentir prazer, de confiar no corpo ou de se entregar à experiência presente. Relações íntimas, sexualidade, criatividade e espiritualidade podem ser profundamente impactadas. Afinal, tudo o que envolve presença, fluidez e entrega tende a ser evitado ou rigidamente controlado.

A possibilidade de transformação: presença que retorna

A boa notícia é que essas marcas precoces podem ser acessadas e transformadas. Quando o corpo é acolhido em segurança, e encontra caminhos somáticos para metabolizar essas experiências, a vitalidade começa a retornar — não como um ideal inalcançável, mas como uma presença real, orgânica e acessível.

Esse é o convite da Terapia Somática Pré e Perinatal: libertar o corpo do congelamento, restaurar a confiança e abrir espaço para uma vida mais presente, espontânea e viva.

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Ele identificou que essas recapitulações podem se manifestar de diferentes formas:

O terapeuta William Emerson identificou que o choque de anestesia pode se manifestar de formas muito distintas ao longo da vida. Não há uma lógica única ou previsível: cada pessoa reage à experiência traumática de maneira singular — seja revivendo diretamente o trauma, evitando-o, projetando-o nos outros ou transformando-o em missão.

A seguir, você encontrará os quatro tipos mais comuns de recapitulação do choque anestésico, conforme descritos por Emerson.

1. Recapitulação Direta: Quando o Trauma Retorna em Estado Puro

Nesse padrão, a pessoa revive intensamente o estado original do choque anestésico. A reação é imediata, visceral e, muitas vezes, desorientadora.

Um exemplo: um cliente relatou sentir um medo paralisante ao perceber mudanças inesperadas em sua parceira. Esse episódio ativava, sem que ele soubesse, a mesma sensação de pânico que viveu no nascimento, quando a anestesia invadiu repentinamente seu corpo.

Nessas ocasiões, ele perdia a energia, a lucidez — chegando até a desmaiar ou “desligar” mentalmente. Após o trabalho terapêutico, passou a reagir com surpresa e curiosidade, sem o terror anterior. Isso revela como é possível integrar a memória corporal de forma transformadora.

2. Recapitulação Evitativa: Quando o Trauma é Silenciado Pela Previsibilidade

Neste caso, a pessoa organiza sua vida em torno da evitação inconsciente de qualquer estímulo que possa reativar o trauma. O medo latente é o de perder a consciência, o controle ou a vitalidade.

Geralmente, isso leva a comportamentos altamente controladores: rotinas rígidas, evitação de riscos e até aversão a substâncias que alterem o estado de consciência. Emerson ilustra isso com o caso de um cientista que planejava cada variável de seus experimentos com meticulosa precisão — uma tentativa inconsciente de evitar o “choque” inesperado.

Embora pareça funcional, essa estratégia pode aprisionar a pessoa num estado de constante tensão e vigilância.

3. Recapitulação Evasiva: Quando o Trauma é Projetado nos Outros

Aqui, o indivíduo se identifica com o trauma e o reproduz em terceiros, de forma muitas vezes inconsciente.

Um exemplo marcante foi o de um sargento militar que, sem saber, induzia medo e paralisia em seus subordinados. Ao agir dessa forma, ele revivia sua própria experiência de anestesia, mas do lado oposto: como o agente, não como a vítima.

Esse padrão de recapitulação costuma ser difícil de reconhecer, pois o trauma é encenado externamente, como se fosse “dos outros”.

4. Recapitulação Confrontante: Quando o Trauma é Transmutado em Missão

Por fim, há quem transforme o trauma em impulso de cura. São pessoas que, a partir da dor, escolhem conscientizar, acolher e ensinar.

Emerson narra o caso de uma enfermeira que, após ter perdido a consciência durante seu próprio parto, dedicou a vida a ensinar técnicas de parto consciente e sem drogas. Seu trabalho visava justamente evitar que outras mães e bebês passassem pelo mesmo apagamento de si.

Essa forma de recapitulação é um testemunho da capacidade humana de transformação: a dor não é negada, mas convertida em ação amorosa e transformadora.

Uma Memória Corporal Que Espera Ser Integrada

Essas diferentes formas de recapitular o choque anestésico revelam a complexidade da resposta humana ao trauma precoce. Algumas pessoas revivem, outras evitam, algumas projetam — e outras ainda transformam.

Esses padrões não afetam apenas comportamentos pontuais: eles moldam relações, escolhas profissionais, reações emocionais e até nossa visão de mundo.

💡 Independentemente da forma como o trauma se manifesta — seja direta, evitativa, identificatória ou confrontante — o que todas essas respostas compartilham é a reativação de uma memória corporal profunda.

Enquanto essa memória não for vista, sentida e acolhida, ela continuará operando silenciosamente no sistema, influenciando pensamentos, emoções e atitudes.

A Boa Notícia: É Possível Curar

O impacto do choque anestésico não precisa ser permanente. É possível acessar essas memórias, elaborar o que não pôde ser sentido no passado e resgatar vitalidade, confiança e presença no aqui e agora.

A seguir, compartilho relatos clínicos e histórias reais de clientes que acessaram essas memórias profundas e encontraram caminhos de integração e cura.

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O nascimento como experiência de construção de confiança

O nascimento não é apenas um marco fisiológico. Ele é também uma experiência psíquica profunda, que deixa impressões duradouras no corpo e na mente do bebê. Desde os primeiros instantes de vida, o sistema nervoso já começa a registrar sensações básicas de segurança ou ameaça — formando a base daquilo que, mais tarde, chamamos de confiança no mundo.

Quando o Início é Acolhedor

Quando o nascimento acontece de forma respeitosa, com mínimas intervenções médicas e a presença sensível da mãe (ou de quem cuida), o bebê é acolhido em um campo relacional seguro.

Nesse ambiente, ele pode sentir que sua chegada é bem-vinda, que o mundo é receptivo e que seu corpo é um bom lugar para habitar. Esse primeiro contato com a vida gera uma confiança básica: no corpo, no ambiente, nos vínculos e no fluxo da existência.

Quando o Início é Traumatizante

Por outro lado, nascimentos que envolvem anestesia, separação imediata, procedimentos invasivos ou ausência de contato afetivo, podem deixar registros profundamente desorganizadores no sistema do bebê.

Nesses casos, o corpo aprende que viver é perigoso, que o ambiente é imprevisível e que a chegada à vida é marcada por dor ou solidão. O sistema nervoso pode responder com hiperalerta, retração ou até entorpecimento emocional.

Esse registro inicial não desaparece com o tempo — pelo contrário: ele tende a se tornar a matriz emocional de futuras experiências, influenciando a forma como a pessoa se relaciona consigo, com os outros e com o mundo.

Efeitos na Vida Adulta

Muitos adultos que passaram por nascimentos traumáticos relatam dificuldade em confiar:

  • no tempo das coisas,
  • nos próprios sentimentos,
  • nos relacionamentos,
  • ou até em momentos de tranquilidade.

Alguns vivem com a constante sensação de que algo ruim está prestes a acontecer, mesmo quando tudo parece seguro. Outros descrevem uma espécie de estado de prontidão permanente, como se precisassem estar sempre preparados para serem arrancados de sua zona de conforto.

Esses padrões emocionais têm raízes somáticas. Eles não vêm apenas de pensamentos, mas de memórias corporais profundas, armazenadas desde o início da vida.

Um Novo Começo é Possível

A boa notícia é que, mesmo quando o nascimento foi traumático, é possível revisitar esse início com acolhimento e presença. Na Terapia Somática Pré e Perinatal, o corpo tem a chance de vivenciar uma nova chegada — simbólica, porém real em seus efeitos.

Essa vivência não apaga o passado, mas oferece uma atualização para o sistema nervoso, como se ele dissesse: “agora é seguro chegar”.

Ao experimentar essa segunda chance de nascer, muitos relatam uma transformação profunda:

  • a vigilância cede lugar à entrega,
  • o medo dá espaço para a curiosidade,
  • e a confiança deixa de ser um ideal distante para se tornar um estado corporal possível.

Conclusão: Do Trauma à Confiança

O trauma do nascimento não precisa definir toda uma vida. Quando o corpo metaboliza o passado, ele não o nega — apenas deixa de reproduzi-lo compulsivamente.

E assim, finalmente, a vida pode começar a ser vivida com menos defesa e mais presença.

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Caso clínico 1: Minha jornada de libertação do choque de anestesia

Em 2013, iniciei um processo transformador dentro da Terapia Somática Pré e Perinatal. Durante uma sessão voltada para liberar memórias implícitas do nascimento, fui colocado em uma postura específica, com toques suaves na cabeça. Essa configuração corporal visava estimular as memórias somáticas e acessar camadas mais profundas da minha experiência de parto.

Logo no início da sessão, começaram a emergir lembranças e sensações ligadas ao meu nascimento por cesariana. O que veio à tona, no entanto, foi algo além do aspecto físico.

A dor silenciosa absorvida da minha mãe

Percebi que havia absorvido o medo intenso da minha mãe após a anestesia: um medo paralisante de ficar aleijada, de morrer ou de me perder. Mesmo sem palavras, esse estado emocional foi transmitido a mim. Ainda bebê, eu estava totalmente permeável às emoções dela, e toda aquela ansiedade e desconexão se tornaram parte do meu corpo.

Com o avanço da sessão, à medida que fui liberando o medo alojado no meu sistema nervoso, surgiu uma percepção ainda mais familiar – e surpreendente.

O corpo como porta de entrada para memórias profundas

Notei que uma tensão recorrente no lado direito do corpo – especialmente nas costelas, ombro e costas – estava diretamente ligada a esse trauma inicial. Durante anos, enquanto competia como atleta profissional, essa tensão me acompanhou. Nos momentos decisivos de torneio, meu corpo colapsava. Perdia a coordenação motora fina, cometia erros bobos, e sentia como se meu corpo tivesse “desligado”.

Era como se houvesse uma desconexão profunda. O corpo, de repente, não respondia mais à minha vontade – como se não fosse meu.

A retomada da presença e da agência

Conforme fui liberando o choque da anestesia, uma sensação emocionante começou a emergir: a de estar recuperando a agência sobre meu corpo. Locais antes dormentes voltavam a se integrar. Sentia que as áreas antes anestesiadas me pertenciam novamente.

Pela primeira vez, percebi nitidamente a diferença entre um corpo presente e um corpo desconectado. Era como se a vitalidade estivesse voltando para pontos que haviam ficado congelados por décadas.

Integração, clareza e confiança

Com o tempo e a continuidade do trabalho terapêutico, essas memórias foram se descarregando e as sensações se integrando. Senti meu corpo mais vivo, minha mente mais clara e minha autoconfiança florescendo. Passei a lidar com os desafios do cotidiano com mais naturalidade, sem aquela ansiedade paralisante e sem a sensação de estar aéreo ou ausente de mim.

A diferença era perceptível não apenas em mim, mas também nas minhas relações, nas escolhas que fazia e na maneira como me posicionava no mundo.

O legado dessa experiência

Essa jornada foi profundamente transformadora. Ela me ensinou o poder das memórias implícitas e como elas podem moldar comportamentos, emoções e padrões, mesmo muitos anos após o evento original.

Aprendi que o corpo guarda registros profundos – silenciosos, porém vivos. E que, quando acessamos essas camadas com respeito, segurança e suporte adequado, abrimos espaço para uma nova forma de existir.

Hoje, essa vivência é a base do trabalho que compartilho com terapeutas e profissionais: ajudar outras pessoas a acessar, liberar e transformar essas memórias ocultas, para que possam viver com mais leveza, presença e autenticidade.

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 Caso clínico 2: “Lucas” e a memória do choque da anestesia

O surgimento das dores e desconfortos

Durante um processo terapêutico com foco em memórias implícitas do nascimento, “Lucas”, um homem de 35 anos, começou a relatar sensações corporais intensas e desconfortáveis. As manifestações surgiram inicialmente como dores localizadas em todo o lado direito do corpo – começando na sola do pé, subindo pela perna, coxa, quadril, lombar e chegando até o ombro.

Essas dores eram tão intensas que ele se via forçado a se sentar de lado, evitando apoiar-se no lado afetado. Era como se o corpo estivesse “gritando” algo que ainda não tinha palavras.

Da dor física à dissociação emocional

À medida que o processo avançava, as dores foram se dissipando, mas algo mais profundo veio à tona. Lucas passou a sentir torpor, sonolência e uma sensação de estar grogue e distante. Sua visão ficou turva, o corpo mole, e ele se sentia incapaz de permanecer presente na experiência.

Junto a esse estado, surgiram uma tristeza intensa e um medo inexplicável. Era como se sua mente e seu corpo estivessem se retirando lentamente da realidade.

A paralisia e o colapso

Com o tempo, essa dissociação evoluiu para uma paralisia do lado direito do corpo, acompanhada por perda de força na perna e no braço. Seu corpo assumiu uma postura curvada, colapsada, como se estivesse “desligando” do ambiente. Essa vivência não durou apenas alguns minutos: se manteve por um longo período, com um sentimento avassalador de impotência, desconexão e confusão.

Somente após a descarga somática e emocional essas sensações começaram a se dissolver, e Lucas pôde, pouco a pouco, retomar a presença e o equilíbrio.

Reconhecendo o padrão de longa data

Ao integrar essa experiência, Lucas reconheceu que esses padrões não eram novos. Desde jovem, especialmente em situações esportivas ou desafiadoras – como partidas de futebol ou apresentações – ele sentia algo semelhante. Perdia a coordenação, cometia erros simples, ficava “aéreo” e era invadido por uma ansiedade paralisante.

Mesmo quando bem preparado, congelava diante de desafios, como se algo dentro dele travasse e o impedisse de acessar seu potencial. Até então, nunca havia compreendido de onde vinha esse bloqueio.

A memória implícita do nascimento

Com o aprofundamento da escuta corporal, ficou evidente que esses padrões estavam diretamente relacionados a uma memória implícita do choque da anestesia vivenciada durante o nascimento. A forma como o corpo reagia – paralisando, desligando, perdendo força e presença – reproduzia fielmente o efeito da substância no sistema nervoso de um bebê.

A terapia permitiu que Lucas acessasse e liberasse essas camadas somáticas e emocionais, permitindo uma reorganização interna profunda.

Os resultados após a integração

Depois de integrar essa vivência, Lucas relatou mudanças significativas: a ansiedade excessiva reduziu, o corpo passou a responder com mais força e harmonia diante dos desafios, e aquela sensação crônica de estar “aéreo” desapareceu. Ele sentia que voltava a habitar plenamente seu corpo, com mais confiança e espontaneidade.

Além disso, suas relações interpessoais e profissionais também melhoraram, refletindo a nova presença que ele conquistava de dentro para fora.

Considerações finais

Este caso ilustra com clareza como o choque da anestesia no nascimento pode deixar registros profundos e duradouros. Mesmo sem lembranças conscientes, o corpo guarda essas experiências e pode manifestá-las como dores crônicas, colapsos, ansiedade ou dificuldades cognitivas ao longo da vida.

Entretanto, com abordagens terapêuticas que respeitam o corpo e a história primal, essas memórias podem ser acessadas, elaboradas e integradas, abrindo espaço para uma vida mais leve, coerente e presente.

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Caso Clínico 3: “Ana” e o medo invisível das mudanças

Durante suas sessões de Terapia Somática Pré e Perinatal, “Ana”, uma mulher de 42 anos, começou a relatar uma ansiedade intensa e aparentemente sem causa diante de qualquer mudança inesperada. Desde pequenas alterações na rotina — como um compromisso remarcado — até grandes transições, como mudar de emprego ou encerrar um relacionamento, tudo a colocava em um estado de alerta extremo.

Mesmo reconhecendo que sua vida estava sob controle, Ana não conseguia relaxar. Sentia como se algo terrível pudesse acontecer a qualquer momento. Seu corpo parecia viver em um modo constante de defesa.

A Necessidade de Controle

Com o tempo, ficou claro que Ana organizava sua vida ao redor da evitação do imprevisível.
Ela planejava meticulosamente, evitava surpresas e precisava prever todas as variáveis. Até mesmo experiências como tomar medicamentos ou praticar meditação profunda geravam desconforto — como se “desligar” ou perder o controle de seu estado corporal fosse perigoso.

Essa rigidez não vinha da mente racional, mas de uma inteligência corporal primitiva: o corpo tentava evitar a reativação de um trauma antigo, ainda não nomeado.

A Memória Corporal Emergente

Durante as sessões, começamos a acessar camadas mais sutis. Ana descrevia sensações vagas:

  • pressão no peito,
  • confusão leve,
  • uma estranha escuridão.

Pouco a pouco, essas sensações ganharam forma: imagens internas, flashes de torpor, desorientação súbita. Até que, em uma sessão mais profunda, surgiu a memória somática: o nascimento por cesariana com uso de anestesia geral.

Ana descreveu uma sensação corporal precisa: como se fosse arrancada de um estado anestesiado para uma realidade desconhecida e invasiva. Sentia que sua energia vital tinha sido drenada, e que estava paralisada, sem presença ou escolha.

Ali nascia não apenas o corpo de Ana, mas também um registro somático de colapso e medo de morrer.

A Função do Controle como Defesa

Com essa lembrança, tudo começou a fazer sentido. Sua necessidade obsessiva de controle, sua rejeição a experiências alteradas de consciência e seu medo de mudanças eram, na verdade, tentativas inconscientes de evitar reviver aquele momento original.

Organizar a vida em torno da previsibilidade era sua forma de proteger o corpo de voltar ao estado de colapso.

Do Colapso à Curiosidade

Com o avanço do processo terapêutico e a liberação gradual das memórias somáticas, algo começou a mudar em Ana.

Ela passou a sentir momentos espontâneos de leveza. Começou a tolerar imprevistos com mais serenidade. Descobriu que era possível relaxar, mesmo diante do desconhecido. E, surpreendentemente, começou a se permitir experimentar pequenas doses de espontaneidade e prazer — antes impossíveis.

Segundo suas palavras, era como se o corpo tivesse deixado de carregar um peso invisível. Aquilo que antes gerava pânico agora gerava apenas curiosidade. O terror original pôde, finalmente, ser integrado como parte de uma história — não como uma sentença vitalícia.

Conclusão: Quando o Corpo Pode Finalmente Confiar

A trajetória de Ana mostra que, muitas vezes, o que chamamos de “personalidade controladora” ou “medo irracional” é, na verdade, uma resposta coerente a experiências precoces de desorganização profunda.

Ao trabalhar com a memória corporal e permitir que o corpo reviva, sinta e elabore essas experiências, é possível reconectar-se com a vitalidade, a confiança e a presença.

O medo deixa de comandar. E a vida pode, enfim, ser vivida com mais entrega.

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Caso Clínico 4: “Cláudia” e o colapso antes da vitória

Sensações inexplicáveis diante de grandes momentos

Cláudia, uma mulher de 51 anos, sempre carregou uma estranha dificuldade em momentos decisivos da vida. Durante as sessões de Terapia Somática Pré e Perinatal, ela acessou memórias implícitas que revelaram um padrão profundo: mesmo quando sabia estar bem preparada – fosse para uma apresentação importante, a defesa de um trabalho ou uma grande conquista – era invadida por uma sensação súbita de colapso e paralisia.

Ela relatou que, pouco antes desses momentos, seu corpo entrava em estado de alerta: batimentos cardíacos acelerados, tensão muscular e medo repentino. Logo em seguida, de forma quase automática, vinha o colapso: o corpo parecia não reagir, a mente travava, as palavras desapareciam.

O esforço para reagir… e o vazio que ficava

Apesar de tudo isso, com muito esforço, Cláudia sempre conseguia se recompor. Retomava o controle, concluía o que precisava ser feito, e em geral, com excelência. No entanto, a vitória que viria acompanhada de orgulho e celebração, era tomada por uma sensação de vazio e desalento.

Ela descreveu a experiência como “um colapso seguido de um grande esforço e, no final, uma desistência emocional”. Esse padrão se repetia não só em sua trajetória acadêmica, mas também em situações pessoais: na compra de um apartamento, no casamento, na realização de projetos significativos. Sempre o mesmo ciclo: preparação intensa, colapso, superação… e vazio.

Quando o corpo revela a origem

No processo terapêutico, Cláudia pôde finalmente reconhecer que essa dinâmica estava diretamente relacionada ao choque da anestesia recebido no nascimento. A substância, administrada à sua mãe durante o parto, atravessou a placenta e atingiu seu sistema nervoso ainda em formação, provocando uma quebra abrupta de energia e consciência.

Essa experiência ficou registrada como memória implícita e, ao longo da vida, foi moldando suas reações corporais e emocionais diante de momentos que exigiam presença plena. Assim como no nascimento – quando ela “desligou” com o impacto químico e depois lutou para retomar a vitalidade – sua vida adulta repetia esse padrão corporal e emocional.

O início de uma nova construção interna

A partir desse reconhecimento, Cláudia pôde dar início a um processo profundo de elaboração do choque anestésico. Ao acessar e metabolizar essa experiência através do corpo, começou a sentir mais presença, alegria e gratidão nos momentos de conquista. Aos poucos, o padrão de desconexão começou a dar lugar a um novo movimento de acolhimento e vitalidade.

Esse é um processo em construção, sem fórmulas mágicas. No entanto, demonstra com clareza como a Terapia Somática Pré e Perinatal pode oferecer suporte real, seguro e respeitoso para acessar e transformar memórias profundas.

Quando o trauma da anestesia se mistura com traumas mais antigos

A anestesia como gatilho de experiências prévias

A experiência do choque anestésico no nascimento raramente ocorre de forma isolada. Em muitos casos, ela interage com vivências anteriores do bebê dentro do útero – e até antes da concepção. Isso significa que o impacto da anestesia pode ser amplificado quando ressoa com memórias não resolvidas já presentes no sistema do bebê.

Por exemplo, a exposição pré-natal a substâncias químicas – como álcool, cigarro ou outras drogas – por parte da mãe (ou do pai, se afeta a qualidade do esperma) já pode alterar profundamente o ambiente intrauterino. Quando a anestesia é administrada no parto, o bebê pode “lembrar” dessa sensação de invasão química, revivendo o mesmo torpor e impotência.

O afeto umbilical e a herança emocional

Outro fator crucial é o chamado afeto umbilical – ou seja, a forma como os sentimentos da mãe são transmitidos ao bebê por meio do cordão umbilical. Se, por exemplo, a mãe vivenciou medo, dúvida ou rejeição ao descobrir a gravidez, o bebê pode ter absorvido essas emoções como se fossem suas.

Nesse contexto, a anestesia no parto pode ser sentida como uma continuação dessa rejeição. O corpo do bebê pode interpretar a substância como um bloqueio final: uma sensação de estar sendo calado, impedido de viver plenamente ou de acessar sua força.

Concepção e ambiente tóxico

Ainda antes da gestação, se a concepção ocorreu em um contexto emocionalmente instável ou com uso de substâncias, o bebê pode carregar esse registro desde o início. Mesmo que nenhuma droga tenha sido usada durante o parto, o choque anestésico pode reativar a memória corporal de que sua vinda ao mundo foi indesejada, confusa ou marcada por dor.

Frases internas como “eu sou um erro”, “não era para eu estar aqui” ou “meu corpo não é bem-vindo” podem emergir como ecos emocionais desses momentos iniciais.

O ambiente uterino e sua influência

Além disso, o ambiente intrauterino por si só pode ter sido marcado por estresse emocional intenso, poluição, ruídos constantes ou relações familiares difíceis. Esses fatores são registrados no corpo do bebê como experiências de toxicidade e desconforto.

A anestesia, nesse caso, atua como gatilho final, ativando todas essas camadas de memórias não resolvidas e colapsando o sistema uma vez mais. Por isso, o nascimento não marca o início isolado da vida, mas sim o ponto culminante de uma sequência complexa de vivências.

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Conclusão: A urgência de olhar para o início da vida

O choque de anestesia no nascimento permanece invisível para a maioria das pessoas. No entanto, seus efeitos não desaparecem com o tempo – eles ficam registrados silenciosamente no corpo, na psique e na vida emocional. Muitas vezes, padrões de colapso, ansiedade, apatia, desconexão e sensação de impotência têm suas raízes nesse momento tão precoce: o nascimento anestesiado.

Precisamos ampliar nosso olhar

Durante muito tempo, os impactos do nascimento foram ignorados na prática clínica tradicional. Mas hoje sabemos, com base em décadas de estudos e vivências clínicas, que as experiências iniciais moldam nossa forma de estar no mundo. E o choque da anestesia é uma dessas experiências determinantes – ainda que muitas vezes ocultas sob camadas de funcionamento “normal”.

Por isso, é essencial irmos além da superfície. Muitas dores emocionais e padrões somáticos recorrentes não surgem do nada. Eles têm uma origem – e muitas vezes, essa origem está nos momentos mais iniciais da vida.

Um convite para mergulhar na origem

Reconhecer isso não é apenas um ato de consciência – é um passo em direção à cura. Por isso, te convido a mergulhar nesse universo essencial e transformador, seja para trilhar a sua própria jornada de reconexão com o corpo e com a vida, seja para se tornar um terapeuta capaz de curar na origem, onde tudo começo

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Vivência Pré e Perinatal

A única imersão no Brasil baseada diretamente no trabalho de William Emerson e na Terapia Somática Pré e Perinatal (PPN). Ela foi cuidadosamente criada para pessoas que desejam acessar as memórias corporais e emocionais mais profundas – aquelas que se formaram ainda na gestação e no nascimento.

Essa vivência não é apenas uma experiência terapêutica. É um reencontro com o que ficou registrado no seu corpo antes mesmo das palavras, com aquilo que moldou sua forma de se sentir no mundo.

Se você busca uma experiência profunda e única, que abre portas para acessar camadas ocultas e originárias do ser humano, esta é a oportunidade.

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Formação em Cura de Feridas Pré e Perinatais

A formação mais completa da América Latina em Psicologia Pré e Perinatal

A maior e mais completa formação da América Latina na área da Psicologia Pré e Perinatal é baseada diretamente no trabalho de William Emerson, que é considerado o pioneiro e uma das maiores referências mundiais no campo. Por isso, essa formação não apenas transmite conhecimento, mas também convida a uma jornada profunda de transformação.

O que você vai aprender e vivenciar ao longo da formação

Durante essa jornada, você vai, primeiramente, compreender com profundidade as camadas e os estágios do desenvolvimento pré e perinatal, sempre a partir de uma abordagem integrativa, somática e fundamentada em ciência.

Além disso, você vai aprender a identificar e trabalhar com memórias implícitas de gestação, nascimento e pós-parto, reconhecendo, portanto, como essas vivências precoces moldam padrões emocionais, comportamentais e relacionais.

Em seguida, você irá dominar técnicas precisas e sensíveis de abordagem corporal, somática e energética, de modo que possa acessar e integrar registros profundos sem retraumatizar o cliente, favorecendo, assim, a segurança do processo terapêutico.

Por fim, você se tornará um terapeuta capaz de oferecer um atendimento verdadeiramente transformador, pois sua atuação deixará de focar apenas nos sintomas e passará a alcançar a raiz do sofrimento humano.

Para quem essa formação foi criada?

Essa formação é indicada para terapeutas, psicólogos, psicanalistas, consteladores, profissionais integrativos, doulas, cuidadores do campo emocional, profissionais da saúde infantil e, ainda, para qualquer pessoa que deseje mergulhar fundo no trabalho com as origens do trauma humano.

Se você sente que, apesar dos conhecimentos que já possui, ainda falta algo essencial em sua escuta ou em sua atuação clínica, essa formação irá lhe proporcionar a ampliação necessária para compreender o sofrimento com mais profundidade, sensibilidade e eficácia.

Dois caminhos, uma escolha essencial

Neste momento, você tem dois caminhos igualmente potentes, e a escolha está em suas mãos.

  • Se você deseja transformar sua própria história emocional, resgatar sua vitalidade e abrir espaço para novas possibilidades de presença, leveza e liberdade, então a Vivência Pré e Perinatal é o primeiro passo ideal.

  • Por outro lado, se o seu desejo é expandir sua prática terapêutica, aprofundar seus conhecimentos e se tornar um profissional realmente preparado para curar na origem, então a Formação em Cura de Feridas Pré e Perinatais é o seu caminho natural.

Independentemente do caminho que você escolher, saiba que ambos conduzem à mesma essência: o reencontro com as raízes da vida humana e o compromisso com uma escuta que transforma de verdade.

Clique aqui e saiba mais sobre essas experiências transformadoras.

Referências Bibliográficas 

  • Emerson, W. (1996). The Dark Side of the Womb: Discovering the Missing Piece in Human Development. Emerson Training Seminars.
  • Janov, A. (1970). The Primal Scream: Primal Therapy: The Cure for Neurosis. Putnam.
  • JAMA Pediatrics.  Association between early exposure to anesthesia and cognitive outcomes: A cohort study in Sweden.
  • Journal of Language and Health. (2024). Systematic review on the impact of early anesthesia on cognitive and behavioral outcomes.

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