Tentativas de aborto: o que esse trauma intrauterino tem a ver com o sentimento de rejeição

Sensação de rejeição, de não ser digna de amor, acreditar em não ser benquista nos lugares e ficar com o sentimento de que sua presença é um incômodo. Você se identifica com alguma dessas situações? Já se perguntou de onde vem tudo isso?

Se acredita que essas sensações foram ocasionadas por conta daquele amor que te abandonou ou do grupo de amigos que te excluiu, tenho algo importante a dizer: talvez não seja exatamente assim. 

Muitas dessas situações podem ser reflexos de uma ameaça de aborto, seja ela ocasionada, espontânea ou até mesmo apenas pensada. “Como assim, Manoel, eu nunca estive grávida!” Ok, mas você já esteve em uma barriga, não é mesmo? É sobre isso que me refiro. 

Se sua mãe, ao descobrir a gravidez, teve um pensamento abortivo, por exemplo, essas marcas podem ter ficado enraizadas em suas células e ter criado um senso de valor sobre você totalmente deturpado. Parece confuso pensar dessa forma? Tenho certeza de que, ao longo do conteúdo, irá entender o que estou dizendo. 

Antes de continuar. preciso esclarecer: falar sobre ameaça de aborto, tentativas, abortos consolidados e tudo o que esteja relacionado ao tema pode ser polêmico. Saiba que nada dito aqui tem o intuito de julgar ou culpar pai, mãe ou quem quer que seja. Pelo contrário, estou apenas compartilhando meu conhecimento de acordo com a área que me especializei, a Psicologia Pré e Perinatal.

Esse campo que estuda os traumas e choques do período intrauterino tem muito a nos ensinar sobre nossos comportamentos. E cada um tem o direito de saber (e decidir) o que é melhor para a sua vida. 

Só quero expor as influências futuras e possíveis nos comportamentos ao longo da vida. Afinal de contas, uma ameaça de aborto também pode ser considerado um dos traumas e choques intrauterinos. 

O que uma ameaça de aborto tem a ver com a rejeição sentida?

Como já deve saber, sob o aspecto da Psicologia Pré e Perinatal, tudo o que acontece em nossas vidas dentro do útero deixa marcas em nosso ser. Mas tudo, é tudo mesmo! Os pensamentos, a energia do ambiente, o que é dito, feito, sentido. 

Enquanto embriões, estamos diretamente conectados à nossa mãe. Sequer sabemos distinguir quem somos do que vivemos. Não separamos o que acontece ao redor da nossa razão. 

Então, vamos imaginar que uma mãe engravide de alguém com quem não mantinha um relacionamento. No desespero, ao descobrir a gestação ela tem uma única certeza: abortar é a melhor saída! 

O serzinho que está se formando, portanto, não sabe distinguir que aquela ameaça de aborto não está relacionada exclusivamente à sua existência. Mas sim ao contexto em que foi concebido. São motivos que não são inerentes ao feto, mas que o fazem sentir-se responsável por tal pensamento. 

Agora imagine só o dilema desse embrião: “quem deveria me amar e me receber com entusiasmo quer acabar com a minha vida”.  Pensando por esse lado, que tipo de aprendizado emocional acredita que se forme a partir disso? “Não mereço amor, sou um problema, estão me rejeitando, não me querem por perto…” e por aí vai! 

Essa ameaça de aborto, tentativa ou pensamento abortivo cria um senso de valor levado pelo resto da vida. Cada uma das diferentes situações também serão absorvidas de formas diferentes. Elas deixam marcas menos ou mais profundas, em camadas distintas. 

Por isso, o sentimento de rejeição, solidão, não ser digna de amor, podem estar relacionados ao período intrauterino. Como disse, ser rejeitado por quem deveria nos amar incondicionalmente é um choque e tanto. 

Portanto, todas as sensações ruins que hora ou outra surgem, na verdade são reflexos dos acontecimentos do período gestacional. Então, tudo o que se vivencia na vida adulta pode engatilhar os sentimentos enraizados dessas memórias profundas. Por isso, esse episódio traumático reflete em muitos padrões comportamentais disfuncionais que impedem a pessoa de viver de forma leve e saudável. 

Citei a ameaça de aborto e os pensamentos abortivos mas preciso esclarecer que quando a perda ocorre de forma espontânea ou provocada (abortos anteriores), também há impactos. 

Não somente para os pais, quando o bebê era desejado, mas também para o futuro do feto. Se for concebido dentro de um período breve, a próxima gestação também pode causar impactos. No entanto, posteriormente farei um conteúdo falando apenas sobre as influências de um aborto para o chamados “bebês arco-íris”.  

Tudo pode ser ressignificado, basta você querer! 

Ressignificar é uma palavra que, no sentido literal, representa dar um novo significado a algo. Sob o ponto de vista de questões emocionais, podemos interpretar como a transformação na maneira como lidamos com episódios traumáticos, por exemplo. 

Ninguém pode apagar o que aconteceu e isso nem seria válido. Mas enxergar as situações de outro ângulo, interpretar os acontecimentos de uma ótica diferente ou simplesmente entender o que aconteceu já pode ser muito benéfico. 

Compreender de verdade, se aprofundar, explorar, acessar memórias inconscientes. Se dar a oportunidade de transformar a bioquímica, os registros dos músculos, das vísceras, do sistema nervoso autônomo, enfim. Explorar memórias muito profundas que ficam armazenadas em um nível celular de quem vivenciou tudo isso antes mesmo de o cérebro estar formado. Somente assim, se chega mais perto de uma libertação emocional. 

Para isso, te convido a conhecer mais sobre o meu curso online, Explorando a Psicologia Pré e Perinatal. Lá eu falo sobre o trabalho das regressões intrauterinas e as consequências que esse período deixou na sua vida. Apesar de aqui ter citado experiências negativas, existem muitas memórias bonitas e maravilhosas sobre esse período.