A Importância do Pai na Gestação sob a Perspectiva da Psicologia Pré e Perinatal (PPN)

26/02/2025
É comum muitas mães sentirem o peso da culpa na gestação e na criação de um filho, pois é como se tudo só dependesse delas ou fossem a única fonte de experiências para o feto. No entanto, a Psicologia Pré e Perinatal (PPN) nos mostra que a presença e influência do pai são igualmente essenciais desde a concepção, passando pela gestação, chegando na preparação para o parto e no pós-nascimento. Neste artigo, exploraremos a importância desse envolvimento e seus impactos para a mãe, o bebê e a dinâmica familiar.
Embora o bebê cresça dentro da barriga da mãe e compartilhe suas experiências hormonais e emocionais de maneira íntima, ele também estabelece uma conexão profunda com o pai, tanto de forma sensorial quanto psíquica. Estudos demonstram que bebês respondem à voz do pai ainda no útero, sendo possível observar reações a estímulos externos, como a mudança de expressões faciais em ultrassonografias 4D e 5D ao ouvirem a voz paterna.
Além disso, em abordagens terapêuticas que exploram memórias do período pré-natal e nascimento, muitos indivíduos relatam uma sensação de vínculo não apenas com a mãe, mas também com o pai. Quando o pai está presente e envolvido, essa conexão pode trazer segurança emocional ao bebê desde muito cedo. Por outro lado, a ausência paterna é sentida de maneira profunda, podendo gerar sentimentos de vazio, insegurança e até adaptação inconsciente a essa ausência ou rejeição. Essa percepção inicial pode influenciar padrões de relacionamento e comportamentos na vida adulta, reforçando a importância de um papel paterno ativo e consciente desde a gestação.
O Impacto da Rejeição Paterna na Gestação
Quando um pai rejeita a gravidez, essa rejeição não afeta apenas a mãe emocionalmente, mas pode impactar diretamente o bebê. Estudos em PPN indicam que o feto é capaz de perceber e reagir aos estados emocionais da mãe, e quando ela enfrenta estresse, tristeza ou insegurança devido à rejeição do pai, o bebê pode absorver esses sentimentos, criando padrões de insegurança que podem se manifestar ao longo da vida.
Essa rejeição pode se manifestar de diferentes formas:
- Rejeição declarada: O pai verbaliza sua oposição à gravidez, podendo até culpar a parceira pela gestação indesejada.
- Pressão para o aborto: Em alguns casos, a mulher pode ser incentivada a interromper a gravidez, o que pode intensificar sentimentos de culpa e insegurança.
- Rejeição sutil: Mesmo sem uma rejeição explícita, a falta de apoio emocional ou a frieza paterna são percebidas pela mãe e pelo bebê.
- Aceitação tardia: O pai pode rejeitar inicialmente a gravidez, mas depois aceitá-la. No entanto, o impacto emocional causado na mãe durante o período inicial pode deixar marcas profundas no bebê.
- Preferência pelo sexo do bebê: A decepção em relação ao sexo do bebê pode ser sentida de forma intensa, tanto pelo pai quanto pela mãe, influenciando o vínculo pré-natal.
As mulheres que gestam sozinhas muitas vezes passam a mensagem ao bebê de que precisam ser fortes e não depender dos demais. Isso pode se exacerbar em relação à energia masculina, afetando os relacionamentos futuros da criança. Muitas vezes, cria-se um padrão inconsciente de autossuficiência extrema, onde esse bebê, ao crescer, pode desenvolver a crença de que não precisa de ninguém, especialmente de figuras masculinas, o que pode impactar sua vida amorosa e suas relações interpessoais no futuro.
A História de Helena: O Impacto de Não Saber Quem é o Pai
Helena tinha 75 anos quando decidiu participar da Vivencia Pré e Perinatal. Durante toda a sua vida, ela acreditava que nunca ter conhecido seu pai não havia feito diferença. Sua mãe, após se separar de um marido violento com quem já tinha dois filhos, mudou-se para outra cidade e teve um breve relacionamento que resultou em uma gravidez. Para evitar questionamentos e dificuldades, nunca contou à filha sobre sua origem e a registrou como filha do ex-marido. Helena cresceu acreditando que ele era seu pai, mas no fundo sempre sentiu que algo não estava certo.
Na vivência, ao acessar camadas profundas de sua psique, Helena percebeu que, no fundo, sempre quis saber quem era seu pai. Um vazio imenso emergiu, junto com lágrimas e sentimentos que ela nunca havia permitido vir à tona. A ausência dessa figura masculina e a falta de verdade sobre sua história haviam deixado marcas profundas que, por muito tempo, foram abafadas pela razão. Ela sempre repetiu para si mesma que isso não importava, mas naquele momento percebeu como essa ausência era significativa.
Muitas vezes, sentimentos reprimidos permanecem ocultos como uma forma de autoproteção. No caso de Helena, ela evitava tocar nesse assunto porque sabia que sua mãe já havia sofrido muito. Esse mecanismo de defesa pode ser comum em muitas pessoas que, conscientemente, acreditam que algo não as afeta, mas que, em um nível mais profundo, carregam dores emocionais latentes. Quando conseguimos acessar e dar voz a esses sentimentos, um grande processo de libertação pode acontecer.
O Pai na Preparação para o Parto e Pós-Parto
A presença do pai no parto não é apenas um detalhe, mas pode ser uma experiência determinante para o bebê e para a mãe. Já acompanhei inúmeros adultos em processos terapêuticos que, ao regredirem ao momento do nascimento, expressaram um ressentimento profundo por não terem sentido a presença paterna nesse instante. Muitos relatam uma sensação de solidão e vulnerabilidade no primeiro contato com o mundo, como se estivessem desamparados logo ao nascer.
Muitos pais não estão presentes no nascimento porque estão comprometidos com o trabalho. Você consegue imaginar o impacto disso no bebê que está nascendo? Que tipo de mensagem ele recebe? Que o trabalho do pai é mais importante do que sua chegada ao mundo? Que sua existência não é prioridade? Isso pode deixar marcas profundas na psique, criando padrões inconscientes que podem se manifestar na vida adulta.
Será que uma pessoa workaholic pode ter suas raízes nesse momento? Eu acredito que, em muitos casos, sim. A falta da presença paterna pode gerar um sentimento de que o trabalho é mais importante do que o afeto, e essa pessoa pode acabar buscando reconhecimento no ambiente profissional como uma forma de compensação. No entanto, cada caso precisa ser investigado individualmente, pois os desfechos podem variar.
O impacto da ausência do pai no nascimento pode ser profundo, pois esse é o momento em que o bebê sai de um ambiente completamente protegido e mergulha em uma nova realidade. Sentir o calor e a presença paterna pode ser um fator fundamental para uma chegada mais segura ao mundo.
O Impacto Transgeracional da Falta de Pai
A ausência paterna não afeta apenas uma geração, mas pode ser transmitida de forma inconsciente ao longo de várias gerações. Pais ausentes frequentemente foram crianças que também cresceram sem a presença de seus próprios pais, e esse ciclo de abandono e desconexão se perpetua se não houver um processo consciente de reconhecimento e cura.
- Filhos de pais ausentes podem desenvolver dificuldades em estabelecer vínculos seguros em suas relações, seja por medo da rejeição ou por um modelo internalizado de ausência emocional.
- A ausência paterna pode se manifestar na dificuldade de confiar em figuras de autoridade ou na necessidade extrema de validação externa, especialmente em ambientes profissionais e afetivos.
- Muitas vezes, homens que cresceram sem um pai presente podem ter dificuldades em assumir sua própria paternidade, seja por medo de repetirem a ausência ou por não terem um modelo claro de envolvimento emocional.
Caso Clínico: A História de Ricardo
Ricardo, um homem de 42 anos, procurou terapia sentindo um vazio emocional constante. Bem-sucedido profissionalmente, ele trabalhava incessantemente, sempre buscando aprovação e reconhecimento. Durante os atendimentos, ele começou a perceber que essa necessidade vinha de uma tentativa inconsciente de conquistar o amor de um pai que nunca esteve presente.
Ele cresceu com a mãe, que, embora amorosa, sempre reforçou a narrativa de que eles não precisavam de ninguém. O pai biológico havia partido antes de seu nascimento, e Ricardo nunca teve uma referência masculina consistente. Durante as regressões ao período perinatal, emergiu uma profunda dor relacionada à ausência paterna. Ele percebeu que havia internalizado a crença de que precisava provar seu valor através de conquistas externas para se sentir digno de amor e aceitação.
Ao longo do processo terapêutico, Ricardo começou a desconstruir essa crença e percebeu que a ausência de seu pai não determinava seu valor. Trabalhou a dor da rejeição inicial e começou a desenvolver relações mais saudáveis, tanto profissionalmente quanto emocionalmente, sem precisar do excesso de desempenho para se sentir visto. Esse caso ilustra como a ausência paterna pode ecoar por gerações e como o reconhecimento e a elaboração desse impacto podem trazer transformações profundas.
Caso Clínico: A Jornada de Jorge
Uma das histórias mais emocionantes que testemunhei em meu trabalho foi a de Jorge, um homem de 45 anos que nunca conheceu seu pai. Sua mãe, Rose, engravidou aos 19 anos de um homem casado, Rodolfo, que sempre prometeu que deixaria sua família para ficar com ela. Durante a gestação, apesar das circunstâncias difíceis, Rodolfo apoiava Rose da forma que podia, até que, no sétimo mês de gravidez, sofreu um acidente fatal de carro. O choque e a dor foram tão intensos que Rose entrou em trabalho de parto prematuro.
Nos atendimentos terapêuticos, a ausência do pai na vida de Jorge era nítida. Embora ele fosse pai de duas meninas e extremamente presente em suas vidas, carregava uma sensação de obrigação e um peso quase excessivo sobre sua responsabilidade como pai. Ele também era terapeuta, ajudando homens a resgatar sua energia masculina, mas algo dentro dele ainda parecia incompleto.
Durante a Vivência Pré e Perinatal, ele entrou em um estado profundo e começou a descrever uma metáfora que, ao explorarmos juntos, revelava que ele estava acessando memórias prénatais. Ele percebeu que estava revivendo um estágio específico da jornada do espermatozoide antes da concepção, e seu corpo começava a revelar informações sobre a energia masculina de seu pai dentro dele. Foi um momento de grande emoção quando ele entendeu que, apesar de nunca ter visto seu pai fisicamente, a presença paterna existia dentro dele de uma maneira essencial e celular.
Essa experiência transformou profundamente Jorge, trazendo não só um novo significado para sua jornada pessoal e profissional, bem como mudanças em seus comportamentos e alívio de sua cobrança interior. Ele se tornou ainda mais assertivo em seu trabalho, conseguindo guiar outros homens a resgatarem suas próprias histórias e reconectarem-se com sua energia masculina. Esse é um dos diferenciais da terapia somática pré e perinatal: não é apenas um conceito intelectual, mas uma experiência vivida no corpo e na essência do ser.
O Impacto da Presença Paterna no Desenvolvimento Neurofisiológico do Bebê
A presença paterna vai muito além da ideia de um suporte material ou de uma figura de autoridade. Quando o pai está emocionalmente envolvido desde a gestação, ele atua como um regulador do ambiente emocional da mãe, reduzindo significativamente seus níveis de estresse e ansiedade. Isso é essencial porque o bebê, ainda no útero, sente tudo o que a mãe sente.
Imagine uma gestante que recebe do parceiro segurança emocional, palavras de acolhimento e suporte prático. Ela se sente mais tranquila, seu corpo libera menos cortisol (hormônio do estresse) e mais ocitocina, promovendo um ambiente uterino equilibrado e seguro para o bebê. Por outro lado, quando a mãe enfrenta a gestação sem apoio, lidando sozinha com suas inseguranças, o feto experimenta um ambiente interno mais tenso, podendo desenvolver padrões de hiperalerta ou dificuldades emocionais futuras.
Pais que conversam com o bebê na barriga, que tocam a mãe com carinho e que demonstram entusiasmo pela chegada do filho fortalecem essa conexão desde o início. É comum relatos de bebês que, ao nascerem, se acalmam mais rapidamente ao ouvir a voz do pai, pois essa voz já fazia parte de sua experiência intrauterina.
Estudos indicam que bebês cujos pais são mais presentes tendem a apresentar padrões mais equilibrados de autorregulação emocional após o nascimento. Eles aprendem desde cedo, por meio das interações iniciais, que o mundo pode ser um lugar seguro e previsível, o que fortalece sua capacidade de confiar e se relacionar no futuro.
O Pai Presente, Mas Ausente: A Ausência Emocional
Nem toda ausência paterna se dá de forma física. Há pais que estão presentes no lar, convivendo diariamente com seus filhos, mas são emocionalmente inacessíveis. Esse tipo de ausência pode ser tão ou mais impactante do que a ausência física, pois gera confusão emocional na criança, que cresce sentindo que algo essencial lhe falta, mas sem compreender exatamente o que é.
A ausência emocional paterna pode ocorrer de diversas formas:
- Distanciamento afetivo: O pai pode estar fisicamente presente, mas não demonstra carinho, afeto ou interesse genuíno pela vida emocional dos filhos.
- Foco excessivo no trabalho: Pais que passam tempo excessivo dedicados ao trabalho, mesmo quando estão em casa, muitas vezes não interagem com os filhos de forma significativa.
- Dificuldade de expressar emoções: Muitos homens cresceram em ambientes onde a vulnerabilidade e o afeto foram desencorajados, tornando difícil para eles estabelecerem vínculos emocionais profundos com seus filhos.
- Pais autoritários ou indiferentes: Alguns pais se comunicam apenas para dar ordens ou estabelecer regras, sem criar um espaço de conexão emocional autêntica.
O Impacto na Vida dos Filhos
A ausência emocional do pai pode gerar uma sensação de vazio difícil de nomear. A criança pode crescer sentindo-se invisível, não reconhecida ou emocionalmente negligenciada, o que pode refletir-se em diversos aspectos da vida adulta:
- Dificuldade em estabelecer relacionamentos profundos e autênticos.
- Busca constante por validação externa, especialmente em figuras de autoridade.
- Tendência a desenvolver um papel hiperindependente, evitando pedir ajuda ou demonstrar vulnerabilidade.
- Sentimento persistente de que nunca é suficiente, independentemente de suas conquistas.
Transformando a Presença Emocional Paterna
Para quebrar esse padrão, é essencial que os pais tomem consciência de sua influência emocional na vida dos filhos e busquem formas de se conectar de maneira mais profunda. Pequenos gestos, como escutar ativamente, demonstrar interesse pelas emoções da criança e validar seus sentimentos, fazem uma enorme diferença no desenvolvimento emocional saudável.
A verdadeira presença paterna não está apenas na provisão material ou na presença física, mas na capacidade de se envolver emocionalmente, criando um vínculo de confiança e segurança. Pais que conseguem se abrir emocionalmente para seus filhos contribuem significativamente para que essas crianças cresçam sentindo-se amadas, vistas e valorizadas, interrompendo ciclos de ausência emocional que poderiam se perpetuar por gerações.
A participação do pai em cursos de preparação para o parto, rodas de conversa e práticas de conexão pré-natal fortalece o senso de pertencimento à experiência gestacional.
O suporte do pai no pós-parto é essencial para a recuperação emocional e física da mãe, prevenindo casos de depressão pós-parto e aumentando a qualidade do vínculo entre todos.
O envolvimento ativo do pai após o nascimento fortalece a tríade familiar, garantindo que a transição para a parentalidade seja menos estressante para ambos os pais e mais segura para o bebê.
Conclusão
O papel do pai durante a gestação vai muito além do biológico; ele tem um impacto emocional profundo tanto na mãe quanto no bebê. A ausência, rejeição ou falta de envolvimento do pai pode gerar marcas emocionais duradouras que podem afetar a criança ao longo da vida. No entanto, quando o pai se faz presente e apoia ativamente a mãe e o bebê, ele contribui para a criação de um ambiente seguro, amoroso e acolhedor.
Reconhecer e transformar padrões transgeracionais pode ser um passo essencial para quebrar ciclos de abandono e ausência, promovendo um novo modelo de paternidade mais consciente e conectada. A presença paterna não é apenas um detalhe na gestação, mas uma peça fundamental no desenvolvimento humano desde o primeiro momento de vida.
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Fontes do Artigo:
- Chamberlain, David B. The Mind of Your Newborn Baby. Berkeley: North Atlantic Books, 1998.
- Emerson, William. Pre- and Perinatal Psychology: Clinical Practice and Research. Emerson Training Seminars, 2015.
- Klaus, Marshall H., et al. Bonding: Building the Foundations of Secure Attachment and Independence. Da Capo Press, 1995.
- Odent, Michel. The Scientification of Love. Free Association Books, 1999.
- Verny, Thomas. The Secret Life of the Unborn Child. Summit Books, 1981.
Artigo bárbaro! Tão valioso e importante ter acesso a esse conhecimento, tanto para quem planeja tem filho, para quem o terá, e para quem já é filho (a).