A Influência dos Traumas Precoces na Felicidade
21/08/2025
“Quantas vezes você já se perguntou por que não consegue simplesmente ser feliz… mesmo quando tudo parece bem?”
Certa vez, trabalhei com uma mulher que dizia sentir um bloqueio profundo quando se aproximava da alegria. Ela relatava que, sempre que algo bom acontecia, uma sensação de medo surgia logo em seguida — como se a felicidade fosse um aviso de que algo ruim estava para acontecer.
Durante nossa sessão, emergiu uma memória da infância, por volta dos 4 anos, quando ouviu seu pai dizendo à mãe:
“Vou cantar uma música pra você, você vai ficar alegre… mas depois vai chorar com a notícia que vou te dar.”
O pai tentou amenizar uma má notícia com uma música alegre. O gesto parecia inofensivo, mas naquele pequeno corpo e mente em formação, uma associação foi criada: se você se alegrar, algo ruim acontecerá.
Mas não parou por aí.
Durante o trabalho corporal somático — porque o corpo guarda memórias que a mente esquece — ela acessou algo ainda mais antigo: Durante a gestação, ela era trigêmea. No último mês de gravidez, os outros dois irmãos morreram no útero. Somente ela nasceu com vida. A lembrança veio com profunda emoção. Ela se deu conta de que aquele medo da alegria não começou com o pai. Começou lá atrás, no ventre, ao vivenciar a morte de seus irmãos enquanto ainda estava viva.
O trauma da perda e a culpa por sobreviver marcaram seu sistema nervoso. A frase do pai, na infância, apenas reforçou o que o corpo já sabia: quando a alegria chega, a dor vem logo depois.
Você consegue imaginar o peso de carregar dentro de si uma ordem tão poderosa contra a felicidade?
Os Primeiros Registros da Vida
Desde o útero, estamos aprendendo algo essencial: é seguro estar aqui ou não?
Nosso Sistema Nervoso Autônomo (SNA) capta, minuto a minuto, o ambiente intrauterino: calor, frio, sustos, presença ou ausência emocional da mãe, rejeições sutis, estresse do ambiente familiar, ruídos, toques invasivos, medicamentos, cirurgias, cesáreas — tudo é registrado como memória implícita.
Essas memórias não vêm com imagens ou palavras, mas com sensações: nó no peito, tensão nos ombros, medo sem motivo, tristeza constante, dificuldade de relaxar, etc. Quando o sistema nervoso aprende cedo que estar vivo é perigoso, ele ativa estratégias de defesa. E o problema é que muitas dessas defesas se cronificam.
É como viver com um pé no acelerador e outro no freio.
Felicidade Exige Segurança
Esse é o ponto central: a felicidade só é possível quando o corpo se sente seguro. E segurança não é um pensamento — é uma sensação. Por isso, frases como “pense positivo”, “deixe o passado pra trás” ou “é só agradecer mais” não funcionam quando há traumas precoces.
Porque a raiz do bloqueio não está no pensamento. Está no corpo.
A Biologia por Trás da Alegria Bloqueada
Nos primeiros meses — e até antes do nascimento — o cérebro racional nem está formado ainda. O que prevalece é o sistema límbico e subcortical, ligado às emoções e à sobrevivência.
Situações como:
- complicações no parto
- separação da mãe após o nascimento
- tentativas de aborto ou rejeição da gravidez
- mortes de gêmeos intraútero
- uso de fórceps ou anestesias invasivas
- cesáreas abruptas sem aviso ao bebê
…podem gerar no corpo a associação entre vitalidade e perigo.
Ou seja, o próprio impulso de viver pode ser bloqueado por memórias somáticas de que, ao se expandir, algo ruim acontece. Até substâncias como dopamina e serotonina, ligadas ao prazer, podem ser afetadas por essas experiências.
Estudos apontam que entre 25% e 45% das mulheres relatam o parto como traumático. Entre elas, até 20% desenvolvem sintomas clínicos de PTSD pós-parto, principalmente após cesáreas de emergência (PMC, 2021; ScienceDirect, 2022). Se é assim para uma mulher adulta, imagine para um bebê, que nem tem sistema nervoso completamente formado.
Quando a Raiva é um Protesto Silencioso
Carlos, empresário de 42 anos, chegou até mim indicado por sua terapeuta. Tinha explosões de raiva frequentes, sentia-se facilmente ameaçado e não conseguia relaxar, mesmo com uma vida estável e confortável. Começamos explorando sua infância. Logo emergiu uma cena marcante: ele lembrava da mãe dizendo, repetidas vezes, em momentos de estresse, que ele “não deveria ter nascido.”
No início, parecia “apenas” mais um caso de rejeição na infância.
Mas seu corpo contava outra história.
Durante as sessões, sensações profundas emergiram — peso no peito, tensão na mandíbula, vontade de empurrar algo com força. Aos poucos, Carlos começou a acessar fragmentos de memória da gestação. Foi aí que tudo começou a se conectar: sua mãe rejeitou a gravidez desde o início. Vivia um relacionamento instável, cheio de medo e ressentimento, e via o bebê como um problema a mais.
Carlos, ainda no útero, já percebia isso. Seu corpo soube, desde sempre: “Minha chegada será um problema para ela. Estou em perigo.” Com o tempo, emergiu uma verdade dolorosa: ele não queria nascer. Não por medo da vida, mas porque o mundo que o esperava não era seguro. Seu corpo resistiu. E o parto foi difícil, forçado, com uso de fórceps.
E aqui está algo essencial: A raiva que Carlos sentia na vida adulta era, na verdade, um protesto interrompido. Era o grito mudo de um bebê que não queria ser arrancado à força de um lugar onde já não se sentia bem-vindo. O fórceps, nesse contexto, representava a última violação: um instrumento de subjugação que atravessou sua vontade, seu tempo, sua integridade.
Mas o bebê não tem como expressar sentimentos. Não tem força para lutar. Por isso, a raiva ficou reprimida no corpo. E, na vida adulta, emergiu em padrões disfuncionais — explosões, tensões, desconfiança crônica.
Quando Carlos finalmente pôde acessar, com apoio e segurança, essas memórias corporais profundas, algo começou a se transformar. Ele não precisava mais lutar contra tudo. Sua raiva não precisava mais protegê-lo de um mundo hostil.
“Hoje, eu posso nascer com escolha.
E posso existir sem precisar me defender o tempo todo.”
Foi então que ele percebeu algo ainda mais sutil: quanto se autossabotava. Toda vez que a vida começava a fluir — nos negócios, nos relacionamentos, até mesmo em momentos simples de lazer —, ele criava um novo problema.
Era como se uma ordem inconsciente dissesse: “não é seguro ser feliz.”
Esse padrão não vinha de má vontade. Era um reflexo fiel da sua história intrauterina — onde o prazer de existir foi manchado pela rejeição e pela violência do nascimento. Só depois de acessar essas camadas, seu corpo começou a aceitar a ideia de viver com alegria.
Sem culpa. Sem luta.
Com confiança.
O Caminho da Cura Profunda
A Terapia Somática Pré e Perinatal atua exatamente onde tudo começou: no corpo.
Ela permite que o sistema nervoso complete respostas interrompidas, integre memórias não processadas e encontre novos caminhos para existir com mais leveza. Por exemplo: Um bebê nascido de cesárea pode ter desenvolvido o padrão inconsciente “eu não consigo passar pelos meus desafios sozinho.” Estudos mostram que crianças nascidas de cesárea dizem até quatro vezes mais “eu não consigo” do que aquelas nascidas por parto vaginal (Emerson, 1995).
Mas não adianta dizer para o adulto: “você consegue.” O corpo precisa viver a experiência de conseguir, e quando isso acontece, novos significados surgem naturalmente, sem precisar forçar frases positivas goela abaixo.
Conclusão — O Que Está Te Impedindo de Ser Feliz?
Talvez, como aquela mulher que temia se alegrar… Ou como Carlos, que nasceu à força num ambiente de rejeição…
Você também carregue histórias antigas, esquecidas pela mente, mas gravadas no corpo.
A boa notícia é: essas histórias podem ser transformadas. Se existe algo em você que parece sempre sabotar sua alegria, se sente um vazio constante, uma tristeza inexplicável, ou um medo sutil toda vez que a vida começa a dar certo… isso não é defeito. É um pedido de escuta.
E o corpo sabe como se libertar. Desde que seja ouvido com presença, precisão e segurança.
💠 Vivência Pré e Perinatal – A Vida que Quer Nascer em Você
A única imersão no Brasil baseada na Terapia Somática Pré e Perinatal, criada para acessar e transformar os traumas mais antigos — da concepção, gestação, nascimento e primeiros vínculos — que ainda moldam sua forma de viver.
Um convite para nascer de novo, com apoio, tempo, escolha e pertencimento.
E finalmente poder dizer:
“É seguro ser feliz.”
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Referências Bibliográficas
Emerson, W. (1995). Birth trauma: The psychological effects of obstetrical interventions. Journal of Prenatal and Perinatal Psychology and Health, 10(1), 21–43.
Emerson, W. (2001). The vulnerable prenate.
Frontiers in Psychiatry. (2024). Prevalence of Posttraumatic Stress Disorder among postpartum women in Ethiopia: A systematic review and meta-analysis.
Liebert Publications. (2021). Posttraumatic stress disorder after cesarean delivery: A meta-analysis. Journal of Women’s Health.
PMC. (2021). Posttraumatic stress disorder after childbirth: A systematic review and meta-analysis.
Policy Center for Maternal Mental Health. (2022). Trauma and PTSD after childbirth.
ScienceDirect. (2021). Trauma related to childbirth and its impact on maternal mental health.
Wikipedia. (2024). Childbirth-related post-traumatic stress disorder.
Porges, S. W. (2011). The Polyvagal Theory: Neurophysiological Foundations of Emotions, Attachment, Communication, and Self-Regulation. New York: W. W. Norton & Company.
Schore, A. N. (2003). Affect Dysregulation and Disorders of the Self. New York: W. W. Norton & Company.
Van der Kolk, B. A. (2015). The Body Keeps the Score: Brain, Mind, and Body in the Healing of Trauma. New York: Viking.
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