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Concepção e nascimento: Nossas marcas podem ressurgir quando decidimos ter um bebê

Concepção e nascimento: Nossas marcas podem ressurgir quando decidimos ter um bebê

18/06/2025

Introdução: Quando uma nova vida desperta a nossa

A decisão de ter um filho costuma ser cercada de amor, esperança, expectativas e, muitas vezes, um desejo profundo de fazer diferente. É, sem dúvida, um dos momentos mais potentes e misteriosos da vida. No entanto, o que poucos percebem é que essa decisão também pode despertar, com a mesma força, as nossas marcas mais antigas — aquelas que carregamos desde a concepção, a gestação, o parto e os primeiros momentos de vida.

Isso ocorre porque a chegada de um bebê convoca, com delicadeza e intensidade, a nossa própria chegada. É como se algo em nós — um saber antigo, celular, silencioso — começasse a falar mais alto. Em outras palavras, é como se o nosso Pequeno, aquele ou aquela que fomos, despertasse e dissesse: “Eu também quero ser visto agora.”

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As marcas que vêm antes das palavras

Na Psicologia Pré e Perinatal, chamamos de impressões iniciais ou imprints esses registros profundos que se formam no corpo-alma a partir de experiências precoces — muitas vezes vividas ainda no útero, ou mesmo antes da concepção.

É importante ressaltar que essas impressões não são memórias com começo, meio e fim. Pelo contrário, são sensações. Estados emocionais. Tensões no sistema nervoso. São memórias que não passaram pela linguagem, mas se manifestam na fisiologia, no comportamento e nos vínculos da vida adulta.

Consequentemente, é justamente na jornada da parentalidade — seja na tentativa de engravidar, na gestação, no parto ou nos primeiros meses com o bebê — que essas impressões tendem a emergir.

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O despertar não acontece só ao decidir ser pai ou mãe

Há quem pense que essas marcas aparecem apenas no momento da decisão: “Quero ter um filho.” Todavia, a verdade é que elas se revelam em diversos momentos ao longo da parentalidade inicial.

Dessa forma, elas podem emergir:

  • no atraso da menstruação;
  • ao fazer o teste de gravidez;
  • na primeira ultrassonografia;
  • ao ouvir o coração do bebê;
  • ao entrar no terceiro trimestre;
  • ao preparar o enxoval;
  • no início do trabalho de parto;
  • nos primeiros choros do bebê;
  • ou em situações aparentemente banais do puerpério, como a dificuldade de amamentar ou o medo de errar.

Assim sendo, cada fase pode tocar uma parte esquecida, fragmentada ou não escutada da nossa própria história de chegada ao mundo. Além disso, quanto mais intensa é a experiência atual, mais profundamente ela pode acessar as camadas não integradas do passado.

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Quando o corpo lembra antes da mente

Um exemplo claro disso foi o caso de Isadora, 26 anos, grávida de seu primeiro bebê.

No primeiro mês de gestação, ela começou a sentir enjoos tão intensos que nada permanecia no estômago. Mesmo forçando a alimentação, tudo voltava. Preocupada com a nutrição do bebê, me procurou em busca de uma explicação que fosse além da medicina tradicional.

Durante o processo, em uma sessão de escuta somática profunda, Isadora acessou espontaneamente a memória da implantação — aquele momento em que o embrião busca se fixar nas paredes do útero.

Nesse instante, ela sentiu com clareza: não era bem-vinda. Havia tensão, conflito e rejeição no campo da mãe. A gravidez não era desejada.

Essa dor, vivida em silêncio celular, ficou gravada como um imprint. E agora, ao gerar uma nova vida, seu corpo revivia a experiência de “não ser recebida”.

Ao reconhecer e elaborar essa memória, algo se transformou. Os enjoos cessaram. Isadora voltou a se alimentar. Mais importante ainda, passou a nutrir a si mesma com mais presença, abrindo espaço para uma nova história.

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A busca por um parto diferente pode ser uma tentativa de reparação

Camila, outra mulher que acompanhei, nasceu de cesárea agendada. Décadas depois, decidiu que seu filho teria um parto diferente. Lutou com médicos, enfrentou familiares, foi julgada por sua insistência — mas conseguiu: pariu seu filho em um parto humanizado, na água, com acolhimento.

O curioso? Apesar do sucesso, o processo foi extremamente tenso, estressante e exaustivo.

Foi em suas sessões que ela percebeu: aquela luta não era só pelo filho. Na verdade, era por ela. Era sua tentativa de reparar a violência de sua própria chegada. Sua cesárea agendada ainda morava nela como uma ferida não integrada. Por consequência, ela usava o corpo do filho como palco da sua cura.

Sim, o filho nasceu de forma respeitosa. No entanto, todo o estresse foi sentido. Porque o bebê não sente apenas o que é dito. Ele sente o que é vivido, o que pulsa no corpo da mãe.

Ao compreender isso, Camila pôde relaxar — e entender que dar ao filho um parto humanizado não bastava, se ela mesma ainda estava presa à sua própria história.

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A gestação como espelho transgeracional

O caso da filha de 10 anos que acompanhamos também é revelador. A mãe, grávida aos dois meses, havia vivido uma situação de violência doméstica e precisou fugir de casa.

Ao investigar sua história pré-natal, descobrimos que quando ela mesma estava no útero, seus pais enfrentaram um incêndio em casa — uma situação que também exigiu fuga.

O mais tocante? A filha, durante a sessão, começou a brincar de se esconder, demonstrando medo e, em certo momento, abriu minha geladeira para buscar comida.

Ela estava revivendo, em linguagem simbólica e corporal, o que a mãe e a avó viveram — o medo, a fuga e a fome. Claramente, a história não contada atravessava gerações.

Isso demonstra a força da Psicologia Pré e Perinatal: reconhecer que os filhos não herdam apenas genética. Herdam também campo emocional, histórias não ditas, traumas não escutados. E muitas vezes, expressam isso com o corpo, com o comportamento, com sintomas.

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Quando o parto ativa o próprio nascimento

Um dos casos mais simples e poderosos que vivi foi o de uma mãe cujo primeiro filho nasceu prematuro, com 34 semanas.

Na segunda gestação, exatamente com 34 semanas, ela começou a entrar em trabalho de parto.

Durante a sessão, perguntei: “Com quantas semanas você nasceu?”

A resposta: “Com 34.”

Ela caiu em si. Percebeu que sua própria história de nascimento estava sendo repetida. Chorou, foi acolhida emocionalmente, e o trabalho de parto cessou.

Posteriormente, levou a gestação até o fim e teve um parto saudável.

Esse caso mostra que, muitas vezes, a repetição não é destino. Ao contrário, é um chamado à consciência. E quando acolhida, pode se transformar em uma nova possibilidade.

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A ruptura do vínculo pode se repetir sem querer

Outro cliente, Rafael, foi adotado aos 18 meses, após viver uma história de abandono, negligência e falta de vínculo nos primeiros meses de vida.

Quando seu próprio filho completou 18 meses, Rafael se afastou. Disse que era “o melhor a fazer”.

No entanto, ao acessarmos sua história, ficou evidente: ele repetia o momento exato da ruptura que sofreu. O abandono havia se tornado um ciclo.

Essas histórias doem. Por outro lado, também libertam. Porque ao serem vistas, deixam de nos controlar.

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A verdadeira escolha nasce da consciência

Se você é mãe, pai ou está se preparando para ser, saiba: a maior dádiva que você pode oferecer ao seu filho é a consciência sobre sua própria história.

De fato, isso é o que chamo de Verdadeira Escolha.

Não basta querer fazer diferente. É preciso saber o que estamos repetindo. Não basta mudar o cenário externo. É preciso cuidar do cenário interno.

A escuta do nosso Pequeno — aquele ou aquela que fomos — nos dá liberdade para não passar adiante aquilo que nos feriu. Além disso, nos permite criar com presença, e não com reatividade.

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A importância de se preparar antes da concepção

A preparação para a parentalidade começa muito antes da concepção. Começa, de fato, com perguntas que raramente nos fazemos:

  • Como foi a minha concepção?
  • Fui desejado?
  • Como era o relacionamento dos meus pais?
  • Como foi minha gestação e meu nascimento?
  • Que histórias foram contadas (ou não contadas) sobre minha chegada?

Essas perguntas não são para julgar os pais. Pelo contrário, são para entender as raízes. Porque o que não é reconhecido, é transmitido.

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Para quem sente esse chamado

Se você sentiu esse texto no corpo, nas lágrimas, no coração… então, talvez seja hora de olhar para sua própria história.

Foi por isso que escrevi o e-book “Parentalidade Consciente – Transformando o Início da Vida”.

Ele não é gratuito. Isso porque não é raso. É um material completo, que condensa tudo o que venho aprendendo ao longo de mais de 16 anos de escuta clínica e formações no Brasil e no exterior.

É um convite para acessar, com profundidade e compaixão, as marcas da sua própria chegada ao mundo — e aprender a não transmiti-las aos seus filhos.

Se você sente esse chamado, clique no link  e adquira agora. Porque ainda dá tempo. Porque seu Pequeno ainda está aí, esperando ser visto. E porque seu filho merece receber o que você nunca teve: um início consciente.

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Referências bibliográficas

  • William R. Emerson – The Vulnerable Prenate (1998)
  • William R. Emerson – Birth Trauma: The Psychological Effects of Obstetrical Interventions (2000)
  • David B. Chamberlain – Babies Remember Birth (1988; rev. 1998)
  • David B. Chamberlain – Windows to the Womb (2013)
  • Thomas R. Verny & John Kelly – The Secret Life of the Unborn Child (1981)
  • Franz Ruppert – Early Trauma: A New Understanding of the Human Condition (2019)
  • Rachel Yehuda – Transgenerational Epigenetic Transmission of Trauma (Biological Psychiatry, 2016)
  • Allan N. Schore – Affect Regulation and the Origin of the Self (1994)
  • Allan N. Schore – The Science of the Art of Psychotherapy (2012)
  • Bessel van der Kolk – The Body Keeps the Score (2014)
  • Ludwig Janus – The Enduring Effects of Prenatal Experience (1997)
  • Alessandra Piontelli – From Fetus to Child (1992)

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