Traumas no parto: como o nascimento influencia nossas vidas

31/05/2021
Você já ouviu falar que uma pessoa pode sofrer traumas no parto? Não estou falando de traumas físicos, dos quais inúmeras vezes ouvimos relatos do bebê que teve um braço quebrado ou outros tipos de fratura. Estou me referindo aos traumas emocionais. O que não significa que um trauma físico não possa desencadear um problema emocional futuramente. Pelo contrário.
Como a questão de falar sobre parto pode ser polêmica, já quero começar deixando claro que eu sou favorável à cesariana toda vez que ela for indicada para salvar vidas. Ou em casos que realmente exista uma justificativa médica plausível para tal. Mas também não sou ninguém para julgar a escolha da mãe. Longe de mim! No entanto, sendo um especialista em Psicologia Pré e Perinatal, não posso negar o quanto esse tipo de parto sem indicação pode trazer problemas futuros para o bebê.
Comecei falando sobre isso por sermos o segundo país que mais faz cesárea no mundo, de acordo com um último estudo publicado na revista The Lancet, um dos periódicos mais importantes na área de ciências. A pesquisa, aliás, indica uma epidemia mundial desse tipo de parto. E nós, brasileiros, ficamos atrás apenas da República Dominicana. Para que se tenha ideia, em nosso país, 55% dos partos realizados são cesarianas. Sendo que a Organização Mundial de Saúde considera aceitável um máximo de 15% de cesáreas, já que esse, teoricamente, é o número de partos que poderiam trazer algum tipo de risco para mãe ou bebê caso fossem realizados de forma natural.
Eu trouxe esses dados apenas para contextualizar, pois quando um bebê nasce de parto cirúrgico, pode haver complicações e implicações em um viés muito mais amplo do que se imagina. Para entender melhor sobre o que falo, indico o documentário O Renascimento do Parto, disponível na Netflix.
Por que estou dizendo isso sobre traumas no parto?
Se pararmos para analisar, a nomenclatura do parto normal não é à toa. Se chama assim porque essa é a maneira natural de vir ao mundo. Não é mesmo?
Porém, o nascimento passou a ser visto como algo lucrativo quando feito de forma cirúrgica. Isso garante, por exemplo, que um obstetra não precise ficar disponível horas e mais horas para realizar um único parto e consiga fazer uma série deles enquanto realizaria apenas um. Por conta disso, a indicação de cesarianas passou a acontecer por conveniência, não por necessidade. E, por incrível que pareça, uma das justificativas é ser algo mais seguro, tanto para mãe quanto para o bebê. O que sabemos não ser uma verdade.
Contudo, o nascer é um momento que deixa muitas marcas somáticas e físicas. Desde as contrações que acontecem para a expulsão do feto até a passagem pelo canal vaginal. Nosso Sistema Nervoso Autônomo, ou SNA, é um dos responsáveis pela regulação emocional.
O SNA, portanto, é dividido em ramos simpático, ativado para nos proteger e trazer nossas defesas à tona, e parassimpático, responsável por nos acalmar. Este último “não nasce conosco”, precisa ser melhor desenvolvido ao longo do tempo.
Acredite: passar pelo canal vaginal é uma forma de criar uma faísca de ignição para o ramo parassimpático. Mais tarde, os pais ou cuidadores também ajudarão esse sistema de regulação a continuar se desenvolvendo a partir do vínculo criado com a criança. Assim como as bactérias ao qual somos expostos no nascimento contribuem para reforçar nosso sistema imunológico.
Tudo o que não acontece em uma cesariana nos traumas no parto.
No mesmo sentido, quando um bebê nasce de forma cirúrgica, é privado de um contato inicial com a sua mãe, já que ele é tocado e retirado por outras pessoas antes mesmo de poder ver quem o pariu. Ou seja, mãe e bebê são impedidos de terem o seu primeiro vínculo extrauterino de forma imediata. Vínculo esse que é extremamente importante para ambos. E, se tem algo que eu aprendi explorando a Psicologia Pré e Perinatal, é a fundamentalidade desse primeiro contato para comportamentos futuros.
Então quer dizer que a cesariana sempre vai trazer traumas no parto?
De maneira geral, deixa suas marcas, pois, além do processo de anestesia utilizado que pode comprometer os sistemas de conexão com a mãe, existe a questão de não ser respeitado o tempo certo. Isso geralmente é percebido como uma invasão de limites. Esse trauma de não poder estabelecer um vínculo, de não ter o primeiro contato visual com a mãe, não sentir seu calor, seu cheiro e o seu toque, pode deixar marcas profundas.
Vale ressaltar que, em muitos casos, a cesariana salva vidas. Estamos falando do uso indiscriminado dessa prática apenas por interesses econômicos e gerenciamento de tempo.
Contudo, partos normais também podem ser um episódio traumático quando o bebê entra em sofrimento fetal ou é necessário utilizar fórceps, por exemplo. Quando a mãe faz o uso de drogas durante a gestação ou é preciso induzir o parto com ocitocina. Tudo o que acontece ao redor do parto, antes, durante e depois, fica registrado em nossas células, em nosso corpo, em nossa energia, e pode influenciar nosso modo de ser, pensar e agir.
Se o bebê é prematuro
Se o bebê é prematuro ou se nasce tardiamente também pode ser considerado um dos traumas no parto. São inúmeros e variados fatores que podem acontecer. Mas isso só será descoberto acessando essas informações em um processo de exploração sobre a vivência intrauterina. O que você sabe sobre o seu nascimento através de outras pessoas é nada se comparado ao que pode descobrir vivenciando uma regressão e “redescobrindo” as coisas sob a sua perspectiva.
As memórias implícitas do seu corpo falam muito mais sobre você do que pode imaginar e os traumas no parto são mais comuns do que você imagina. O corpo armazena absolutamente tudo o que é vivenciado. Como diz Willian Emerson: “Todo ser humano tem alguma questão advinda do período intrauterino”. Só depende de você descobrir quais são as suas.
Tenho ajudado muitas pessoas a descobrirem e tratarem questões intrauterinas na Vivência Pré e Perinatal. Se interessou pelo assunto e quer saber mais? Clique aqui.
Quanto ao conteúdo, não concordo que o trauma está na forma de parto. Tenho uma sobrinha que a mãe sofreu 12 horas, esperando parto normal, quase morreu as duas e hoje é uma pessoa introvertida etc.
A questão doutor não é a forma de nascer, mas sim preparar e cuidar gestantes, para que crianças venham saudáveis
Hoje ninguém tem cuidado com uma mulher por estar gerando, nem mesmo a classe médica, quanto mais familiares, tudo é passado durante os 9 meses, e as mães não são preparadas emocionalmente para passarem pelo parto é muito menos elas preparam a sua criança para passar cm ela essa experiência parto.E meu pensamento, e não indico mulher nenhuma ficar horas gemendo de dor para dar à luz esperando a boa vontade de médicos.
Bebê nascido de parto fospe pode trazer traumas como o bebê crescer com carência emocional?